Editoria:Política
Tipo: Matéria
Data: 31/05/2015
Assunto: TRANSPARÊNCIA
Driblando a transparência
Apesar de terem sites com Portal da Transparência, três em cada quatro 
municípios do estado não atualizam dados
Nos sites de algumas prefeituras, ele está em local visível, no de outras, 
quase no rodapé. Fato é que após três anos da regulamentação da Lei da 
Transparência (nº 131/2009), a maioria dos executivos pernambucanos apresenta o 
símbolo de acesso ao almejado Portal da Transparência em suas páginas na 
internet. Porém, muitos não funcionam ou estão desatualizados, convertendo-se em 
verdadeiros dribles à legislação. Eles se juntam às gestões que nem mesmo o link 
disponibilizam ou sequer têm site, encorpando um desrespeito à lei, que em 
Pernambuco é registrado em 76% do território, conforme levantamento realizado 
pelo Diario entre os dias 20 e 22 de maio. 
Nele foram verificados os lançamentos de receitas e despesas na rede ao 
longo deste mês. A falta de transparência se soma às explicações desencontradas 
dos gestores. Estava crente de que vinha sendo atualizado. Designei um 
funcionário para isso, disse o prefeito de Quixabá, Zé Pretinho (PR), sem saber 
precisar se era a Secretaria de Finanças a culpada pela desatualização ou a 
empresa contratada. Ele chegou a informar o celular da empresa, que explicou que 
os dados devem ser lançados no sistema pela prefeitura - ela é encarregada 
apenas da criação da ferramenta. 
Desconhecimento também foi alegado pelo secretário de Finanças de Manari, 
Lucas Bezerra, cuja pasta responde pela remessa de dados. Não sei por que está 
desatualizado. Temos uma assessoria para fazer esse trabalho. Indagado se 
poderia ser alguma dificuldade técnica, ele negou. É simples. A prefeitura 
fecha os balanços e lança. Ambas as cidades não disponibilizam informações 
desde o início do ano - a lei determina que ocorra em tempo real. Quixabá está 
entre os dez municípios com menor arrecadação no estado. Manari registra o menor 
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHm). 
Nesses dois grupos está o maior número de prefeituras irregulares. Porém, o 
cenário se repete em cidades em melhor situação socioeconômica. No Paulista, o 
Portal da Transparência está desatualizado desde 2014. A assessoria de imprensa 
diz que o motivo seria o encerramento do contrato com a empresa que implantou o 
sistema. A nova contratada não teria iniciado as atualizações. Sócio-diretor da 
Icorp, agência que desenvolve portais de transparência, Caio Correia comenta que 
a inexistência ou desatualização dessas ferramentas é culpa do desinteresse dos 
gestores. Não se pode colocar barreiras tecnológicas ou financeiras como 
empecilho. A tecnologia existe e é acessível. 
É mais uma questão política, disse. Ainda conforme Correia, é possível 
fazer um portal bom e funcional com R$ 15 mil. Já a qualidade das 
informações disponibilizadas é algo que precisa ser trabalhado na equipe 
municipal. Geralmente é a prefeitura que atualiza, então o tipo de informação 
que vai estar acessível à população varia conforme a vontade e visão de cada 
prefeito. Entre os dribles verificados durante o levantamento está a falta de 
data do ingresso das receitas ou das despesas. 
Há casos, ainda, em que a prefeitura apresenta somente o valor global dos 
lançamentos por mês, o que significaria, igualmente, descumprimento às normas. 
Poderia ser feito em uma linguagem mais fácil. Fazem para cumprir a lei, mas 
não se pode chamar de transparência se não é decifrável à pessoa que acessa, 
avaliou Joara Marchesini, oficial de projetos de acesso à informação da 
Organização Não Governamental (ONG) Artigo 19.
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