segunda-feira, 1 de junho de 2015

DIARIO DE PE - www.diariodepernambuco.com.br
Editoria:Política
Tipo: Matéria
Data: 31/05/2015
Assunto: TRANSPARÊNCIA



Driblando a transparência

Apesar de terem sites com Portal da Transparência, três em cada quatro municípios do estado não atualizam dados

Nos sites de algumas prefeituras, ele está em local visível, no de outras, quase no rodapé. Fato é que após três anos da regulamentação da Lei da Transparência (nº 131/2009), a maioria dos executivos pernambucanos apresenta o símbolo de acesso ao almejado Portal da Transparência em suas páginas na internet. Porém, muitos não funcionam ou estão desatualizados, convertendo-se em verdadeiros dribles à legislação. Eles se juntam às gestões que nem mesmo o link disponibilizam ou sequer têm site, encorpando um desrespeito à lei, que em Pernambuco é registrado em 76% do território, conforme levantamento realizado pelo Diario entre os dias 20 e 22 de maio.

Nele foram verificados os lançamentos de receitas e despesas na rede ao longo deste mês. A falta de transparência se soma às explicações desencontradas dos gestores. “Estava crente de que vinha sendo atualizado. Designei um funcionário para isso”, disse o prefeito de Quixabá, Zé Pretinho (PR), sem saber precisar se era a Secretaria de Finanças a culpada pela “desatualização” ou a empresa contratada. Ele chegou a informar o celular da empresa, que explicou que os dados devem ser lançados no sistema pela prefeitura - ela é encarregada apenas da criação da ferramenta.

Desconhecimento também foi alegado pelo secretário de Finanças de Manari, Lucas Bezerra, cuja pasta responde pela remessa de dados. “Não sei por que está desatualizado. Temos uma assessoria para fazer esse trabalho”. Indagado se poderia ser alguma dificuldade técnica, ele negou. “É simples. A prefeitura fecha os balanços e lança”. Ambas as cidades não disponibilizam informações desde o início do ano - a lei determina que ocorra em tempo real. Quixabá está entre os dez municípios com menor arrecadação no estado. Manari registra o menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHm).

Nesses dois grupos está o maior número de prefeituras irregulares. Porém, o cenário se repete em cidades em melhor situação socioeconômica. No Paulista, o Portal da Transparência está desatualizado desde 2014. A assessoria de imprensa diz que o motivo seria o encerramento do contrato com a empresa que implantou o sistema. A nova contratada não teria iniciado as atualizações. Sócio-diretor da Icorp, agência que desenvolve portais de transparência, Caio Correia comenta que a inexistência ou desatualização dessas ferramentas é culpa do desinteresse dos gestores. “Não se pode colocar barreiras tecnológicas ou financeiras como empecilho. A tecnologia existe e é acessível.

É mais uma questão política”, disse. Ainda conforme Correia, é possível fazer um portal “bom” e “funcional” com R$ 15 mil. Já a qualidade das informações disponibilizadas é algo que precisa ser trabalhado na equipe municipal. “Geralmente é a prefeitura que atualiza, então o tipo de informação que vai estar acessível à população varia conforme a vontade e visão de cada prefeito”. Entre os “dribles” verificados durante o levantamento está a falta de data do ingresso das receitas ou das despesas.

Há casos, ainda, em que a prefeitura apresenta somente o valor global dos lançamentos por mês, o que significaria, igualmente, descumprimento às normas. “Poderia ser feito em uma linguagem mais fácil. Fazem para cumprir a lei, mas não se pode chamar de transparência se não é decifrável à pessoa que acessa”, avaliou Joara Marchesini, oficial de projetos de acesso à informação da Organização Não Governamental (ONG) Artigo 19.

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