Veículo: FOLHA DE
PERNAMBUCO - PE
Editoria: OPINIÃO
Autor: PALHARES MOREIRA
REIS*
Tipo: Artigo
Data: 16/06/2015
Assunto: SECRETARIA DA
FAZENDA
A máquina pública e sua
diminuição
O inchaço da máquina pública em nosso
País está espantando os espectadores, ou seja, todos nós, que não estamos no
Governo, porém pagamos impostos (e como pagamos!) para sustentar este time de
pessoas que ingressa no serviço público sem concurso, sem ao menos um processo
simplificado de seleção, valendo para esta admissão apenas o QI, isto é, o "quem
indicou", para cada caso. Por isto é que a máquina, além de cara, é
emperrada.
Na verdade não haveria necessidade de
uma quantidade tamanha de ministérios para fazer funcionar o Estado brasileiro.
Pode-se achar que talvez não exista a necessidade de tantos ministérios, tantos
órgãos governamentais, sobretudo quando não se pratica no País uma economia de
Estado, que tivesse necessidade de tantos órgãos de supervisão e controle das
práticas de políticas públicas. No
entanto, esta prática de aumentar o número de ministérios e de órgãos da
administração indireta, fragmentando a administração federal, não é novidade e
sempre existiu no Brasil, especialmente depois do governo de Getúlio
Vargas.
Quando o presidente Castelo Branco
assumiu o governo, encontrou tantos e tais órgãos, diretamente subordinados ao
presidente da República, que criou um Ministério Extraordinário para a
Coordenação dos Organismos Regionais, entregue ao general Cordeiro de Farias,
para que este passasse a exercer a fiscalização, a supervisão e o controle de
tais entes, diminuindo a carga de trabalho presidencial, que passava a tratar
diretamente apenas com o ministro supervisor da área.
Este aspecto de ser uma economia de
Estado mereceria uma análise mais aprofundada, especialmente quando se compara o
Brasil de hoje com a União Soviética de Nikita Kruchov, que nos fins dos anos
1950 eliminou de uma só vez, numa reforma ministerial, quase 36 ministérios, por
desnecessários: para o secretário geral eram cabides de empregos da
"Nomenklatura".
O aumento de tais órgãos e entidades
traz a reboque o incremento de cargos diretivos, os chamados cargos de
confiança, os quais, pela própria Constituição, são de livre nomeação,
dispensando os seus ocupantes de demonstrar o mérito através do concurso
público. E atualmente eles são, pelas contas mais recentes, 110 mil. Isto mesmo:
110 mil cargos comissionados, de livre nomeação e exoneração, sem que o seu
ocupante tenha de demonstrar sua aptidão e eficiência para
ocupá-lo.
Tal não é regra nova: o que há de novo
é o chamado "dízimo", como qual se enchemos cofres do Partido, mormente nas
vésperas da eleição municipal. Nada irregular, pois a nomeação sem concurso,
(apenas se discute a dimensão numérica dos "companheiros") no caso, inteiramente
legal, mas não tão correta, e a contribuição para o partido decorre de norma
estatutária, à qual o filiado está obrigado. Se entrou para o Partido, terá de
obedecer a suas regras e dar sua contribuição, que ninguém pede que seja
espontânea, porém compulsória, de acordo com as normas aprovadas, publicadas e
registradas no TSE.
Mas não nesta dimensão: pois são 110
mil "companheiros" de confiança, mamando nas tetas do Estado. O número de
ministérios foi aumentando paulatinamente durante o período do Reino-Unido e do
Império, bem como nos primeiros tempos da República. De quatro ministérios
iniciais, de 1808, passou-se a cinco no começo do Império, a seis em 1825,
ficando todo o período regencial e o reinado de Pedro II, até 1889.
A criação do cargo de primeiro
ministro não aumentou esse número, na prática, pois o presidente do Conselho de
Ministros sempre exercia, pelo menos, uma das pastas ministeriais
tradicionais. Na República, o Governo
Provisório de Deodoro teve oito pastas, voltando a seis de Floriano a Nilo
Peçanha, quando passou a sete; assim veio até a Revolução de 1930. Getúlio
passou a governar com nove, subindo depois para dez, nos seus primeiros 15 anos
e este número não foi alterado até a sua nova posse, quando passou a
11.
Com Jânio Quadros subiu para 13; no 3º
gabinete parlamentarista surgiu pela primeira vez um ministro sem pasta e no
governo presidencialista de João Goulart, o rol foi aumentado para 15
ministérios. Com o governo Castelo Branco, especialmente com a reforma
administrativa, passou-se a um total de 21 ministros de Estado, sendo apenas 16
os ministérios, os demais sendo os "ministros da Casa", isto é, dirigentes dos
órgãos diretamente subordinados e de apoio ao presidente da
República.
Este número, mantido por Costa e Silva
e pela Junta Militar, passou a ser de 17 como general Médici e 19 no de João
Figueiredo. Em todos os casos, além dos ministros das pastas ministeriais,
continuavam os quatro "ministros da Casa". Com José Sarney, obedecendo aos compromissos de
Tancredo Neves, somou-se aos quatro "da Casa" mais 28 ministérios, chegando-se a
32 ministros de Estado. O governo Fernando Collor reduziu o conjunto. 12
ministérios, mais 7 secretarias e os quatro "da Casa" de sempre. No do
presidente Itamar Franco o grupo permaneceu numericamente o mesmo.
Nos dois períodos
presidenciais de Fernando Henrique Cardoso voltou-se a ter 23 ministérios, e
mais 6 "ministros da Casa", mesmo tendo desaparecido os três ministérios
militares, aglutinados na pasta da Defesa. Finalmente, no governo que vem de se
instalar, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o número passou de 23 para
24, e mais 6 "da Casa", num total de 30 cargos de ministros. E, no governo Dilma
Rousseff, este número passou para 39. Não são os mesmos ministérios, todos eles,
porém, na quantidade se equivalem, mesmo tendo sido alteradas as denominações e
redistribuídas as competências, como se verá adiante.
Professor Emérito da UFPE
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