Até 2020, a depressão será a
doença mais incapacitante do mundo, diz OMS
Revista Pazes
Por Revista Pazes - Janeiro 18,
2017
Ela chega de mansinho, assim como
quem não quer nada. Num dia, você acorda triste, desanimado. No outro, bate uma
sensação de vazio e uma vontade incontrolável de chorar, sem qualquer motivo
aparente. A depressão é assim, um mal silencioso e ainda mal compreendido – até
mesmo entre os próprios pacientes.
Considerada um transtorno mental
afetivo, ou uma doença psiquiátrica, a depressão é caracterizada pela tristeza
constante e outros sintomas negativos que incapacitam o indivíduo para as
atividades corriqueiras, como trabalhar, estudar, cuidar da família e até
passear.
De acordo com OMS (Organização
Mundial de Saúde), até 2020 a depressão será a principal doença mais
incapacitante em todo o mundo. Isso significa que quem sofre de depressão tem a
sua rotina virada do avesso. Ela deixa de produzir e tem a sua vida pessoal
bastante prejudicada.
Atualmente, mais de 120 milhões
de pessoas sofrem com a depressão no mundo – estima-se que só no Brasil, são 17
milhões. E cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da doença.
Descrita pela primeira vez no
início do século 20, a depressão ainda hoje é confundida com tristeza,
sentimento comum a todas as pessoas em algum momento da vida. Brigar com o
namorado, repetir o ano escolar e perder o emprego são motivos para deixar
alguém triste, cabisbaixo. Isso não significa, porém, que o sujeito está com
depressão. Em alguns dias, ele, certamente, vai estar melhor.
O desconhecimento real do
funcionamento desse transtorno afetivo é o principal responsável por um dos
maiores problemas para quem sofre com a depressão: o preconceito. Para Marcos Pacheco
Ferraz, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ele ainda existe e
prejudica muito o paciente.
– Principalmente no ambiente de
trabalho, onde há competições e cobranças por bom desempenho, é comum as
pessoas nem comentarem sobre a enfermidade. Nesses casos, o melhor é tirar
férias ou licença médica.
E não é só isso. A ignorância em
torno da doença faz com que familiares e amigos, na tentativa de ajudar, piorem
ainda mais a condição do depressivo.
Frases como “tenha um pouco de
força de vontade”, “vamos passear no shopping que melhora”, “você tem uma vida
tão boa, tá com depressão por que?” e “se ocupe com outras coisas que você não
terá tempo de pensar em bobagens”, funcionam como uma bomba na cabeça de quem
já se esforça, diariamente, para conseguir sair da cama.
– Isso mostra que as pessoas não
conhecem o transtorno. Achar que é frescura ainda é comum. Elas não imaginam
que o paciente não consegue reagir. Não depende de força de vontade.
A designer C.N., 35 anos, que
passou por uma depressão severa há alguns anos, sabe bem o que é isso. Mesmo
trabalhando em um ambiente com pessoas bastante esclarecidas, ela cansou de
ouvir esse tipo de comentário. E os efeitos eram devastadores. Ela conta que “até
críticas sobre o meu médico eu ouvi. Uma colega disse que ele não devia ser
bom, pois depois de um mês de tratamento eu já deveria estar curada.”
– É incrível o poder que algumas
palavras tem sobre o doente. A primeira coisa que as pessoas perguntavam era o
motivo da minha depressão, pois eu tinha uma vida tão boa, uma família, filha,
um casamento bacana, um emprego legal. O fato de não ter uma explicação para a
doença me deixava péssima. Era um sentimento de culpa enorme.
Por isso, Ferraz diz que é muito
importante a participação da família no tratamento. Eles precisam saber o que
devem e o que não devem fazer em relação ao doente. Para ele, “fazer com que
todos entendam o mecanismo do transtorno e como agem os remédios é fundamental
para o sucesso do tratamento. Ainda existe o mito de que antidepressivo vicia,
o que é um grande engano.”
Texto: Cláudia Pinho
FONTENotícias R7