domingo, 30 de junho de 2019







O Espiritismo, como filosofia organizada e ciência investigativa da realidade extrafísica, apareceu no mundo na metade do século 19. É fruto do trabalho de um pedagogo francês que adotou o nome de Allan Kardec. Ele sistematizou o pensamento dos espíritos, dando forma e logicidade às comunicações esparsas dos ditos seres da outra dimensão. À época, os fenômenos espirituais eclodiram com bastante intensidade nos Estados Unidos e em diversos países da Europa – algo que ficou conhecido como a invasão organizada. Apesar dos fatos espirituais se perderem na história do próprio homem na Terra, no Ocidente este período marcou o início de uma nova era, onde o Espiritismo aparece como um conhecimento útil para colaborar no processo de espiritualização da humanidade. Não na condição de protagonista desse movimento, mas contribuindo com princípios bem caracterizados e com práticas consolidadas pela experiência dos seus milhares de núcleos instalados no planeta e destacadamente no Brasil.

Pode-se agrupar as etapas de evolução do Espiritismo em três grandes blocos como uma maneira de entender melhor o planejamento espiritual da disseminação das ideias de espiritualidade do ser humano pelas vias dessa doutrina, mas que coincide também com o próprio avanço desses princípios no seio planetário.

A primeira etapa, ou dir-se-ia no jargão classificativo atual, o Espiritismo 1.0, começa em 1857 e vai até 1930. O fenômeno mediúnico era abundante. A produção literária febril. Havia a necessidade de descrever em pormenores os princípios fundantes do Espiritismo e que não se tratava tão-somente de um espetacular divertimento através de mesas falantes. Muitos estudiosos deram o seu testemunho de veracidade fenomênica, apesar do enorme esforço para desconfigurá-lo, ora como produto de mágica, ora como artefato apenas do psiquismo humano.  Ciente dos abalos que secundariam a Europa, os fomentadores espirituais do movimento trazem-no para o Brasil para resguardá-lo das intempéries que sacudiriam o Velho Continente.

Os dirigentes espíritas da ocasião foram espíritos com culpas muito acentuadas que se desdobraram nos serviços de caridade para amenizar suas dores e na aplicação da mediunidade como arrimo de sua fé. Esta etapa conclui-se com a chegada de Chico Xavier.

O Espiritismo 1.0 é o período de alicerce das bases doutrinárias.

Num segundo momento, iniciado em 1930 e encerrado em 2000, é o período de expansão dos princípios doutrinários. Protegido no Brasil dos efeitos de duas grandes guerras mundiais, o País se torna berço da geração do seu conteúdo. Muitos espíritos reencarnam para dar continuidade a sua propagação. Adaptado às necessidades locais, o Espiritismo cresceu com feição assistencialista e acentuadamente religiosa com nítidas tendências católicas. Médiuns missionários chegaram para dar mais credibilidade ao pensamento espírita com seu testemunho de trabalho incansável.

Vieram para cá espíritos com grande bagagem filosófica e religiosa, mas portadores de muito orgulho e vaidade, que buscaram no conhecimento adquirido recursos para se reorientarem na vida.

O Espiritismo 2.0 é a etapa de divulgação social dos princípios espíritas em larga escala.

A atual fase compreende um ciclo que se findará em 2070. Será o início do tempo da maioridade do pensamento espírita. Em paralelo com o advento da regeneração planetária, o Espiritismo ganhará novos ares, haja vista que seus princípios fundamentais começarão a se estender para toda a humanidade.

A universalização das ideias espiritistas provocará naturalmente uma rearrumação do pensamento espírita, em que cada crença e saber o amoldará às suas peculiaridades, deixando, portanto, de ser uso exclusivo de seus adeptos. A mudança não se restringirá ao campo fenomênico, cada vez mais massificado, ela irá ao encontro da transformação moral.

Neste século dos sentimentos, o Espiritismo 3.0 se voltará destacadamente para o coração humano, afinal, a mudança a que o Espiritismo se propõe é antes interior do que nas aparências.

Menos formalismos e dogmatismos e mais espontaneidade e liberdade. Menos pureza e mais coerência doutrinária. Menos teoria e mais vivência.

Neste contexto, o amor passa a ser o centro das atenções do movimento espírita. Não o amor romântico e fantasioso, aquele, no entanto, ungido nas atitudes concretas de amorosidade.

Aportarão para a carne os espíritos cansados de si mesmos e com muita angústia a respeito do amor. Aqueles que trazem uma extrema necessidade de viver seus relacionamentos com mais afetividade.

O Espiritismo 3.0 é o ciclo da humanização e do desenvolvimento do afeto.

A ênfase nesta etapa é dar atenção a gente. Gente com necessidades a serem superadas. Gente com deficiências morais a serem reeducadas, independentemente delas se tornarem espíritas. Gente que aprenda a se amar e consiga amar o outro sem temor ou amarras. Gente que começará a resolver definitivamente pendências passadas que travam o seu progresso espiritual. Gente que gosta de gente.

O Espiritismo 3.0 modificará o ambiente dos núcleos espíritas. Diminuirá gradativamente a tarefa socorrista, atualmente necessária e imprescindível, e dará foco à atividade de educação do espírito, proporcionando a aderência dos postulados doutrinários a remodelação de hábitos, promovendo-os a homens de bem, como bem definia Allan Kardec. Integrando-se a outros movimentos de recuperação e promoção humana, os núcleos espíritas, em rede, contextualizarão suas práticas na direção do coração que transforma.

A mediunidade se ressignificará. O excesso de proibições de costume dará lugar a espontaneidade de manifestação. O Espiritismo com espíritos será uma tônica dos núcleos espíritas. A parceria entre gente na carne e gente no espírito se estreitará e expandirá. Um novo pentecostes crescerá tornando a relação espiritual mais flexível e social. Uma espécie de retorno aos primeiros dias do Espiritismo 1.0.

O Evangelho será imprescindível nestes tempos de Espiritismo 3.0. As lições de amor trazidas por Jesus serão o sustentáculo das novas práticas. A lição sabida de “cor” será finalmente aprendida nos corações em regeneração.

Claro que todas essas ilações são inferências e muitas outras poderão ser elaboradas para o nosso movimento de espiritualização humana. As mudanças tecnológicas que se avizinham no planeta são exponencias, mas serão inócuas se não baterem forte no íntimo do ser espiritual imortal.

As primeiras sementes do Espiritismo 3.0 estão sendo plantadas no solo do movimento espírita e como não poderia ser diferente encontrará barreiras.

Victor Hugo, oportunamente, defendia que nada resiste a força de uma ideia quando é chegado o seu tempo. O tempo espírita chegou e uma revolução nas ideias já está em curso, como lembrava Allan Kardec. As concepções ultrapassadas serão paulatinamente substituídas para a conflagração de uma nova era.

À semelhança da festa de bodas da parábola cristã, todos são convidados a participar da implantação deste banquete de renovação moral proposto no Espiritismo 3.0.

Venha sem demora!

Carlos Pereira

Fontes

§ Seara Bendita, Diversos Espíritos, psicografia de Wanderley Oliveira e Maria José da Costa, Editora Dufaux.
§ Amorosidade – A Cura da Ferida do Abandono, Ermance Dufaux, psicografia de Wanderley Oliveira, Editora Dufaux.

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