quinta-feira, 10 de outubro de 2019


Conheça mais sobre transtorno de ansiedade, o mal do século


Mais de 9% da população brasileira sofre deste mal que tem tratamento e cura. Entenda porque a ansiedade patológica atrapalha a vida e saiba como combatê-la.


Perder o sono, se revirar na cama na véspera de um acontecimento importante, sentir frio na barriga... Todos nós sentimos ansiedade. E isso não é ruim. Essa sensação integra o nosso sistema de defesa e está projetada em quase todos os animais vertebrados, desde peixinhos ornamentais até seres humanos. A seleção natural, inclusive, sempre agiu em favor dos mais preocupados.

Em uma situação que envolva risco de vida, por exemplo, as chances dos mais inquietos, apreensivos e atentos saírem ilesos são maiores que as dos mais distraídos e relaxados. Transferindo essa condição para milhares de anos de evolução natural, o resultado é que todo mundo é ansioso em maior ou menor grau.


Percebendo os limites da ansiedade
Moradora de Rio do Sul, Larissa Passig, 23 anos, desde criança se preocupava com suas tarefas da escola e com acontecimentos que ainda estavam por vir.

– Minha mãe conta que eu nunca ia brincar sem antes terminar a lição de casa, mesmo que isso não fosse uma exigência dela. Sempre senti a necessidade de querer fazer tudo rápido e de ter as coisas sob controle – relata.
Mas, a partir dos 17 anos, o que era até então excesso de responsabilidade se transformou em transtorno de ansiedade.

– Começaram as minhas preocupações com as responsabilidades da faculdade e com o mercado de trabalho. Mudei da área administrativa para a contábil, onde a pressão, em minha opinião, é maior. Minhas apreensões com prazos e resultados começaram a dominar a minha vida e eu passei a exigir demais de mim mesma e a não conseguir mais aproveitar o presente. Só pensava no que eu teria de enfrentar nos dias que viriam – conta Larissa que, então, começou a sentir os sintomas do que se caracteriza como transtorno de ansiedade, ou ansiedade patológica.

– Comecei a não dormir bem, sentir dores no peito, falta de ar e a estar sempre sofrendo por antecipação. Então passei a descontar tudo na comida. Foi a válvula de escape que eu encontrei – relembra.


De acordo com a psicóloga Janara Vanderlinde, do Núcleo de Atenção à Saúde da Unimed Alto Vale, a ansiedade é absolutamente normal até certo ponto. Mas se torna necessário investigar com orientação médica se essa sensação foge do controle e provoca pavor diante de situações contornáveis e relativamente simples.

– A ansiedade é uma manifestação fisiológica, inerente ao ser humano e necessária para a sobrevivência social. É normal, por exemplo, sentir consternação antes de uma prova importante e até ficar sem dormir na noite anterior. Mas viver sob forte e persistente tensão em muitos momentos do cotidiano foge do que é considerada ansiedade natural – conta.

Mal do século já chega a 33% da população mundial

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), distúrbios relacionados à ansiedade afetam 33% da população em todo o mundo, o que significa 264 milhões de pessoas. No Brasil, as estatísticas apontam que 9,3% (18.657.943) dos brasileiros sofrem com transtorno de ansiedade, ou seja, quase três vezes mais do que a média mundial.

Não à toa a ansiedade foi apelidada por muitos especialistas como a “doença do século”. Falta de tempo, uso excessivo de tecnologias, competitividade no mercado de trabalho e a obrigação social de ser bem-sucedido estão entre os gatilhos principais da patologia.

– A ansiedade tornou-se habitual no mundo moderno. Mesmo que não percebamos, ela está sempre por perto. A patológica é diagnosticada quando a pessoa passa dos limites, ou seja, quando perde a noção de espaço, quando o medo se torna excessivo, quando há palpitações, tremores, náuseas, taquicardia e até mesmo desmaio. Vale lembrar que a ansiedade normal passa com o tempo, enquanto a patológica se agrava – relata Janara.

Segundo a especialista, não há como definir com exatidão as causas que levam uma pessoa à ansiedade patológica, mas ela lista quatro fatores comuns na maioria dos casos:

Estresse muito alto
A sobrecarga no trabalho e as cobranças são as principais causas de uma pessoa ficar ansiosa. Normalmente, ela não fala sobre o assunto e vai guardando tudo até chegar em um ponto insuportável.

Traumas
Alguns traumas de infância fazem com que a pessoa seja insegura e evite certas situações. E quando ela se depara com essas situações, fica nervosa e pode ter alguns sintomas como dores de cabeça e náuseas.

Angústias
Quando se está angustiado pode-se constatar ansiedade, afinal, os problemas pessoais e familiares deixam as pessoas mais preocupadas, o eleva os níveis de estresse.

Sem razão aparente
Muitas vezes não há razão específica para o desenvolvimento do transtorno de ansiedade. Hábitos ruins podem nos deixar mal. Por isso, algumas pessoas não conseguem justificar esse sentimento, o que traz ainda mais frustração.

Apoio psicológico que conforta e alivia a tensão

Diante dessas situações, buscar ajuda é essencial. Após ganhar 13 kg em seis anos, Larissa buscou ajuda de uma endocrinologista que, ao traçar seu diagnóstico, desconfiou que seu problema com o ganho de peso tinha fundo emocional.

– Eu achava que tudo era normal. Não me dava conta de que descontava a minha ansiedade excessiva na comida e por isso engordava. Durante as consultas com a minha endócrino, relatei alguns sintomas e ela sinalizou que eu poderia estar com transtorno de ansiedade. Depois disso procurei terapia, que já faço há três meses, e sinto uma mudança enorme na minha vida. Minhas relações sociais e familiares melhoraram, assim como o meu humor, e sinto mais facilidade em compartilhar minhas angústias e problemas – explica Larissa.
Enfermeira do Núcleo de Atenção à Saúde da Unimed Alto Vale, Luana Vieira fala sobre como projetos como o Espaço Viver Bem, desenvolvido na cooperativa que será inaugurado em breve, ajuda pessoas na mesma situação de Jéssica.

– Dentro desse contexto, programas como o Espaço Viver Bem tem muito a contribuir. O Núcleo de Atenção à Saúde é um setor da Unimed Alto Vale que promove programas de prevenção e promoção à saúde dos beneficiários. Temos uma equipe multidisciplinar que trabalha com atividades práticas para desenvolver a habilidade no controle da ansiedade e na prevenção da depressão. Recentemente inauguramos a academia no Espaço Viver Bem, que é utilizada por crianças, adolescentes, adultos e idosos – conta.

Segundo a profissional, programas como este abrangem todos os aspectos que podem impactar na qualidade de vida do indivíduo.
– Haverá projetos voltados à reeducação alimentar para crianças e adultos, acompanhamento ao hipertenso e diabético, práticas de promoção de qualidade de vida, gerenciamento da ansiedade e acompanhamentos oncológico, funcional e cognitivo – explica.

Identificando a ansiedade
De acordo com a psicóloga Janara, ainda não há exames específicos que detectem o transtorno de ansiedade.
– A pessoa que pode estar sofrendo o transtorno de ansiedade deve procurar um médico psiquiatra ou psicólogo. O diagnóstico da ansiedade patológica é feito através de entrevistas e a partir da observação de sintomas físicos que podem caracterizar o quadro – relata.
Para a especialista, derrubar o tabu de que a ansiedade é uma frescura ou uma fraqueza, contribui para diagnósticos precisos, possibilitam a cura e interrompem longos processos que causam dor.
– Infelizmente existe uma falsa crença de que o transtorno de ansiedade e a depressão, doenças diferentes, mas que podem coexistir na mesma pessoa, são sinais de incapacidade diante da vida. Não são. São doenças que podem atingir qualquer pessoa em qualquer fase da vida – finaliza Janara.
A psicóloga Janara Vanderlinde sugere recomendações que podem ser eficazes no combate à doença.

Psicoterapia
É um processo focado em ajudar o indivíduo, casais ou grupos de pessoas a resolver questões emocionais. Através da psicoterapia, é possível aprender maneiras mais construtivas de lidar com a ansiedade.

Mindfulness
Esta prática meditativa acalma a mente e relaxa o corpo. Com a constância da prática, a pessoa percebe que a intensidade de sua ansiedade diminui consideravelmente. A prática está ligada profundamente aos pensamentos, à respiração, a um barulho, a uma dor.

Atividade física
Escolha uma atividade que traga prazer, que você realmente goste. E pratique com regularidade.

Ajuda médica
A ajuda de um médico é indispensável nessas ocasiões. Faça uma consulta e siga todas as instruções.

Medicação
Se houver prescrição de medicamento, tome corretamente, cumprindo os horários e as dosagens estabelecidas pelo médico.

Alimentação
Informe-se sobre alimentos que podem ajudar a diminuir a ansiedade. Eles podem ser incluídos na dieta diária mediante prescrição.

Conheça mais sobre transtorno de ansiedade, o mal do século — Foto: Pexels

Fonte: G1
por Federação Unimed SC


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