sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O elo entre o desemprego e o aumento da criminalidade. O que fazer?

 
O desemprego é um problema cada vez mais grave para os jovens entre 15 anos e 29 anos, que já respondem por 46% do total de indivíduos nesta situação no país – a propósito, a razão desemprego juvenil/adulto aumentou para 3,5 nos últimos anos. A qualidade da ocupação é outro problema sério – 50% dos ocupados entre 18 anos e 24 anos são assalariados sem carteira, porcentagem que se mantém em 30% entre os que têm de 25 anos a 29 anos de idade. O aumento da criminalidade é inevitável. Mesmo sabendo-se que a maioria é honesta e jamais pegaria numa arma, basta que uma minoria desse universo ceda à tentação do crime para elevar as estatísticas.
 
 
Isso já aconteceu no passado, e vai se repetir agora – de 2001 a 2003, o ganho médio dos paulistanos caiu 18,8% e a oferta de trabalho 22%, enquanto nas ruas furtos e roubos a transeuntes aumentaram quase na mesma proporção, 23%. A pesquisa também revelou que o grau de violência dos delitos pode variar de acordo com o nível de desespero econômico de quem os pratica. Os furtos, que não envolvem ameaça ou agressão direta às vítimas, têm uma relação mais direta com a queda na renda da população.
 
Os perfis do preso ou do delinquente hoje no Brasil também equivalem ao do desempregado - e isso se vê na maioria dos municípios pesquisados no levantamento sobre desemprego juvenil. É alguém com baixa escolaridade, desempregado ou subempregado.
 
 
Mas porque isso acontece? Uma boa explicação foi dada por Mohamed Ali, que contou durante uma Ted Talk uma história de um garoto de uma cidade pequena. "Eu não sei seu nome dele, mas conheço a sua história. Ele vive em uma pequena aldeia no sul da Somália. Sua aldeia fica perto de Mogadíscio. A seca leva a pequena aldeia à pobreza e à beira da morte pela fome. Sem nada para ele lá, ele vai para a cidade grande, neste caso, Mogadíscio, capital da Somália. Quando ele chega, não há oportunidades, não há trabalho, não há caminho a seguir."
 
 
O menino acaba vivendo num acampamento na periferia de Mogadíscio. Um ano se passa, talvez, e nada. Um dia, ele é abordado por um cavalheiro que se oferece para levá-lo para almoçar, em seguida, para o jantar, café da manhã. Ele conhece um grupo dinâmico de pessoas, e eles lhe dão uma chance. Ele recebeu um pouco de dinheiro para comprar algumas roupas novas, dinheiro para mandar para sua família. Ele é apresentado a uma jovem. Ele se casa, enfim. Ele começa uma nova vida. Ele tem um propósito na vida. Um belo dia, em Mogadíscio, sob um céu azul-celeste, um carro-bomba é detonado. Aquele garoto de cidade pequena com os sonhos da cidade grande era o homem-bomba, e o grupo dinâmico de pessoas eram al Shabaab, uma organização terrorista ligada à Al Qaeda.
 
Então, como é que a história de um garoto de uma cidade pequena apenas tentando ser bem sucedido na cidade acaba com ele se explodindo? Ele estava esperando. Ele estava esperando por uma oportunidade, esperando para começar o seu futuro, esperando por um caminho a seguir, e esta foi a primeira coisa que apareceu. Esta foi a primeira coisa que o tirou do que chamamos de estado de espera. Isso também acontece no Brasil - e sua história se repete em centros urbanos ao redor do mundo, como São Paulo e Rio de Janeiro. Se não é terrorismo, o garoto é atraído pela criminalidade. É a história da juventude urbana destituída e desempregada que provoca motins em Joanesburgo, inicia tumultos em Londres, que estende a mão para uma coisa diferente do estado de espera.
Para os jovens, a promessa da cidade, o sonho da cidade grande é o da oportunidade, do emprego, da riqueza, mas os jovens não estão compartilhando a prosperidade de suas cidades. Muitas vezes é a juventude que sofre das mais altas taxas de desemprego. Em 2030, três em cada cinco pessoas que vivem em cidades estarão com menos de 18 anos. Se não incluirmos os jovens no crescimento de nossas cidades, se não lhes proporcionarmos oportunidades, a história do estado de espera, a porta de entrada para o terrorismo, violência, gangues, será a história das cidades 2.0.

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