Saiba como as emoções (boas ou ruins) afetam nosso
organismo
Quem nunca dormiu mal ou teve dor de barriga antes de algum evento
importante? O neurocientista franco-português Henrique Sequeira, especialista
dos efeitos biológicos das emoções em nossa saúde, explica o porquê.
A brasileira Carolina Copetti, 30 anos, que faz mestrado em Sociologia
na França, lembra como se fosse hoje. Em 2010, ela estava se formando em
Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tinha uma
reunião com sua orientadora para discutir o tema de seu Trabalho de Conclusão
de Curso. “Aquilo ficou me remoendo durante muitos dias, era uma conversa
importante. Tive insônia porque era muito difícil conseguir desligar o
cérebro”, conta.
Carolina diz que essa insônia, paradoxalmente, foi a solução para seu
problema. Entre noites mal dormidas, a estudante acabou achando seu tema de
pesquisa, que foi aprovado pela orientadora. “É engraçado sonhar com uma
discussão teórica, mas foi o que aconteceu. Acabou sendo um evento positivo
porque definiu minha vida profissional pelos próximos anos”, diz.
A atriz francesa Mélanie Martinez-Llense, em cartaz com o espetáculo
"Berk Plage", em Montreuil, perto de Paris, conta que subir no palco
sempre causa sofrimento. Entre os sintomas, ela descreve suor e taquicardia.
"É uma aceleração de todo meu metabolismo. Suor, salivação...aliás, nos
primeiros momentos no palco, eu sou muito rápida nos gestos e na maneira de
falar. Tudo se acelera", descreve. "É o nosso ego que está sendo
ameaçado. Temos medo do julgamento dos outros", conclui Mélanie. Apesar
dos sintomas desagradáveis, ela lembra que existe "uma recompensa com os
aplausos e a reação da plateia".
O neurocientista franco-português Henrique Sequeira coordena um
laboratório dedicado ao estudo das emoções na universidade de Lille, no norte
da França. Suas pesquisas incluem a análise do impacto das emoções no corpo,
sejam negativas ou positivas, como as vivenciadas por Carolina ou Mélanie. “O
interesse desse tipo de emoção é preparar o indivíduo a enfrentar o que vem
pela frente. É desconfortável, mas há efeitos posteriores potencialmente
positivos”, explica. Como se o prazer “apagasse” os efeitos corporais
negativos. Tudo faz parte, ressalta, de um processo individual de regulação
emocional.
A equipe do neurocientista estuda, entre outros temas, os efeitos no
sono das emoções boas ou ruins vivenciadas durante o dia. Um dos estudos,
publicados em 2015, foi feito em parcerias com instituições japonesas. Para
isso, os pesquisadores exibiram filmes com cenas agradáveis, desagradáveis e
“neutras” a um grupo de 12 pessoas, antes de dormir.
Em seguida, eles gravaram as ondas cerebrais dos pacientes durante oito
horas. No total, a equipe registrou 120 noites. A conclusão diz Sequeira, é que
o a estrutura do sono foi modificada. “O que mudou, principalmente, foi a fase
do sono conhecida como paradoxal, quando ocorrem os sonhos. Ela foi modificada
pela estimulação emocional” explica.
Os pacientes que assistiram a um filme violento, por exemplo, só
mergulharam no sono profundo na segunda parte da noite, como se o cérebro
tivesse “esperado” para relaxar completamente e se desconectar do mundo
exterior. Já cenas relaxantes contribuíram para um sono de melhor qualidade.
Interface entre cérebro-corpo
Como as emoções influenciam fisiologicamente o organismo? “Não há
emoções sem impacto no corpo. O que é preciso compreender é que elas funcionam
como uma interface entre o cérebro e o corpo. Quando sentimos uma emoção,
positiva ou negativa, isso nunca será insignificante para o organismo”, resume
o neurocientista.
As reações podem ser hormonais, viscerais ou cardiovasculares,
respiratórias, de temperatura e gástricas. Há também modificações no sistema
imunológico, que pode melhorar ou sofrer uma baixa em função das emoções
ressentidas. “Hoje podemos separar a influência das emoções positivas e das
negativas”, diz o pesquisador. “Em relação à saúde física, temos muitos dados,
e em relação às modificações que hoje já estão bem demonstradas, há as
cardiovasculares – as emoções negativas vão gerar hipertensão e arritmias
cardíacas, por exemplo.” O pesquisador também cita a asma, as dores nas
articulações ou as doenças gastrointestinais.
Ele também lembra a importância da ação dos corticosteroides, produzidos
pelas glândulas suprarrenais, secretado quando o indivíduo se sente acuado, ou
bloqueado em uma situação. Esse grupo de substâncias afeta a produção de outros
hormônios capazes de aumentar a tensão arterial e alterar o metabolismo do
açúcar, criando uma predisposição ao diabetes.
Entre eles está o cortisol, conhecido como o hormônio do stress. “O
cortisol vai modificar, por exemplo, a produção de citocinas, substâncias que
pertencem ao sistema imunológico, enfraquecendo as defesas. Isso faz com que o
indivíduo fique doente com mais frequência”, explica.
Visualizando soluções para proteger o corpo
O que é interessante, afirma o neurocientista, é perceber que o corpo
atua em função do que se passa na cabeça da pessoa. Seja qual for a dificuldade
da situação, se o indivíduo é capaz de elaborar uma alternativa ou de
visualizar uma solução para o problema, os hormônios não serão mobilizados e
não atuarão da mesma forma no organismo. Quando existe submissão a um contexto
desfavorável, por exemplo, os corticosteroides vão destruir a saúde.
"A maioria das pessoas não fica doente por acaso", diz
Henrique Sequeira. Um estudo sueco, diz, avaliou durante cinco anos os eventos
estressantes em um grupo de pacientes e a incidência que isso teria na saúde
deles 12 anos depois. O resultado é que o stress vivenciado é proporcional à
incidência de doenças cardiovasculares. Por outro lado, as emoções positivas,
como o otimismo, a auto-estima e a resiliência, têm efeitos benéficos. Como diz
o pesquisador, não ignore as emoções: aprenda a enfrentá-las.
Fonte: G1
O que são
distúrbios do sono?
São conhecidos por distúrbios do sono
todas as irregularidades de comportamento que causam dificuldades na
hora de dormir. Existe mais de uma centena de distúrbios do sono diferentes. De
acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 40% da população apresenta
algum tipo de distúrbio do sono. Insônia, apneia, terror
noturno, sonambulismo, paralisia do sono, ronco, síndrome das pernas
inquietas, transtorno alimentar noturno
e bruxismo estão entre os distúrbios mais comuns.
Apresentar dificuldades para dormir em
qualquer fase do sono pode trazer prejuízos à curto e longo prazo. Durante as
três primeiras fases do sono, o corpo economiza energias, promove a restauração
de tecidos, o aumento da massa muscular e libera o hormônio de crescimento. Já
na fase REM, há a consolidação da memória e do aprendizado. Quando a pessoa
está dormindo e é acordada por alguma irregularidade, ela volta imediatamente à
fase 1 do sono, comprometendo esse processo.
Os distúrbios do sono podem ser
agrupados em quatro categorias principais:
- Dificuldades para adormecer ou permanecer
dormindo;
- Problemas para permanecer acordado;
- Problemas para conseguir manter uma rotina
regular de sono;
- Comportamentos incomuns durante o sono.
Essas dificuldades podem ser um alerta
para problemas crônicos, nem sempre associados a doenças. As primeiras
manifestações dos distúrbios do sono se dão através de alterações de humor, de memória e de
capacidades mentais (cognitivas), como aprendizado, raciocínio e pensamento,
variando de um distúrbio para o outro.
O que é a insônia?
A insônia é caracterizada pela
incapacidade de iniciar ou manter o sono. Geralmente causada por hábitos
inadequados, ela pode estar relacionada a distúrbios do humor, como ansiedade e depressão, sendo difícil
saber qual vem primeiro. Se os sintomas ocorrerem pelo menos três vezes por
semana e por mais de três meses, a pessoa tem um quadro crônico.
A insônia pode ser classificada em três
tipos de acordo com sua duração ou frequência, sendo eles:
- Transiente: dura apenas alguns dias e pode
chegar até 3 semanas;
- Crônica: também chamada de longa duração, a
insônia crônica é aquela que dura mais de 3 semanas;
- Intermitente: insônia de curta duração que
ocorre de tempos em tempos. Entre esses tempos, há períodos de sono
regular.
Além disso, a insônia pode ser primária
(quando não há nenhuma doença causando a insônia), ou secundária (quando a
insônia é sintoma de alguma condição médica). Em todos os casos, pessoas com
insônia possuem sua qualidade de vida e bem-estar prejudicados
pela falta de sono.
Existem fatores de
risco?
Qualquer pessoa pode apresentar quadros
de insônia irregulares ou frequentes, mas os principais fatores de risco são:
- Pessoas do sexo feminino, pois sofrem mudanças
hormonais durante o ciclo menstrual e na menopausa. A insônia também é
comum com a gravidez.
- Pessoas acima dos 60 anos de idade, devido às
alterações nos padrões de sono e a problemas de saúde.
- Pessoas com algum distúrbio de saúde mental,
como depressão, ansiedade, transtorno bipolar, transtorno de estresse
pós-traumático, entre outros.
- Pessoas sob estresse constante.
- Pessoas que realizam trocas frequentes de
horário para dormir.
Quais os sintomas
da insônia?
Geralmente, quem tem insônia sente sua
mente e corpo inquietos durante horas antes de conseguir pegar no sono.
Despertam frequentemente enquanto estão dormindo ou, mesmo dormindo por várias
horas, não sentem que o sono é reparador.
O resultado disso é já começar o dia
sentindo-se cansada, com problemas de humor e falta de energia, pior desempenho
no trabalho, nos estudos ou qualquer outro círculo que exige esforços
cognitivos, sentir fadiga e sonolência durante todo o dia, ansiedade, dores de cabeça ou prejuízos na
coordenação motora. Além desses sintomas, diversos outros podem se apresentar
de acordo com cada pessoa.
Como é feito o
diagnóstico e tratamento nesses casos?
O primeiro diagnóstico é feito a partir
de uma série de perguntas para analisar comportamentos e histórico. Depois
disso, é feito um exame físico para procurar sintomas de outros problemas que
podem desencadear a insônia. Exames podem ser exigidos para identificar essas
doenças. Durante o período de diagnóstico, o médico analisará seu padrão de
sono e sonolência diurna. Para isso, manter um diário de sono por um determinado
período de tempo é essencial.
Se a causa da insônia não estiver clara
ou seja apresentado sinais de outro distúrbio do sono, como a apneia do sono ou
síndrome das pernas inquietas, é possível que seja solicitada a
polissonografia. Esse exame consiste em permanecer uma noite em um centro
especializado para o monitoramento dos parâmetros do sono, quantidade de horas
dormidas, atividades corporais, ondas cerebrais, respiração, batimentos
cardíacos, movimentos dos olhos e outros.
Uma vez estabelecido o diagnóstico,
existem várias opções de tratamento, seja medicamentoso ou através de terapias cognitivo-comportamentais, sendo indispensável o
acompanhamento do médico adequado.
Sintomas de Insônia
Os principais sintomas de insônia podem incluir:
·
Dificuldade para adormecer à noite
·
Despertar durante a noite
·
Despertar muito cedo
·
Não se sentir descansado após uma noite de sono
·
Cansaço ou sonolência diurna
·
Dificuldade para prestar atenção, concentrar-se em tarefas ou se lembrar
de alguma coisa importante
·
Aumento do risco de acidentes
·
Problemas gastrointestinais
·
Preocupações contínuas com o sono
Uma pessoa com insônia, muitas vezes, pode levar 30 minutos ou mais para
adormecer e pode dormir por apenas seis horas ou menos a partir de três noites
por semana por mais de três meses.
Na consulta médica
Entre as especialidades que podem diagnosticar insônia estão:
·
Clínica médica
·
Neurologista
·
Medicina do sono
·
Psiquiatria
Estar preparado para a consulta pode facilitar o diagnóstico e otimizar
o tempo. Dessa forma, você já pode chegar à consulta com algumas informações:
·
Uma lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram
·
Histórico médico, incluindo outras condições que o paciente tenha e
medicamentos ou suplementos que ele tome com regularidade
O médico provavelmente fará uma série de perguntas, tais como:
·
Você tem tido problemas para dormir?
·
Quantas horas você costuma dormir por noite?
·
Você desperta facilmente durante a noite?
·
Você costuma alimentar-se em grandes quantidades antes de deitar?
·
Você faz uso excessivo de cafeína, nicotina ou álcool?
·
Você passou ou passa por momentos de grande estresse recentemente?
·
Quais são seus hábitos noturnos?
·
Você se sente cansado ou improdutivo durante o dia?
·
A falta de sono tem prejudicado seu desempenho em atividades diárias, no
trabalho ou nos estudos?
·
Quando os sintomas começaram?
·
Você faz uso de algum medicamento? Qual?
·
Você já foi diagnosticado com alguma outra condição médica?
·
Você tomou alguma medida para aliviar os sintomas? E funcionou?
Diagnóstico de Insônia
Além de fazer-lhe uma série de perguntas, o médico analisará seu padrão
de sono e sonolência diurna.
Para isso, você talvez tenha de manter um diário de sono por um
determinado período de tempo e depois apresentá-lo ao médico.
Ele provavelmente também fará um exame físico para procurar sinais de
outros problemas que possam estar causando insônia.
Ocasionalmente, um exame de sangue pode ser feito para verificar a
existência de problemas de tireoide ou outras condições que podem estar por
trás da insônia.
Se a causa da insônia não estiver clara, ou caso você apresente sinais
de outro distúrbio do sono, como a apneia do sono ou síndrome das pernas
inquietas, você pode precisar permanecer durante uma noite em um centro
especializado para analisar e diagnosticar distúrbios do sono.
Lá, os testes são feitos para monitorar e gravar uma variedade de
atividades corporais enquanto o paciente dorme, incluindo as ondas cerebrais,
respiração, batimentos cardíacos, os movimentos dos olhos e os movimentos do
corpo também.
Medicamentos para Insônia
Os medicamentos mais usados para o tratamento de insônia são:
·
Cloxazolam
·
Dormonid
·
Midazolam
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu
caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca
as orientações do seu médico e NUNCA se automedique.
Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se
tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita,
siga as instruções na bula.
Complicações possíveis
O sono é tão importante para a saúde quanto uma dieta saudável e
exercícios físicos regulares. Seja qual for o motivo para a perda do sono,
insônia pode afetar e prejudicar a saúde física e mental.
Pessoas com insônia possuem baixa qualidade de vida em comparação às
pessoas que dormem bem. Complicações da insônia podem incluir:
·
Menor desempenho no trabalho ou nos estudos
·
Tempo de reação e reflexo mais lento, acompanhado de maior risco de
acidentes
·
Problemas psiquiátricos, como depressão ou transtorno de ansiedade
·
Irritabilidade
·
Abuso de substâncias, como cigarro, álcool, cafeína e outras drogas
Fonte: Ministério da Saúde
Associação Brasileira do Sono
Insônia Primária
Transtornos Psiquiátricos Associados Primariamente à Insônia
Insônia Secundária a Abuso, Dependência ou Abstinência de Substâncias
Patologias Clínicas Associadas à Insônia
Transtorno de Movimento Periódico dos Membros e Síndrome das Pernas Inquietas
Insônia da Apnéia do Sono
Hipersonia Primária e Narcolepsia
Transtornos do Sono Relacionados ao Ritmo Circadiano
Síndrome de Atraso da Fase do Sono
Síndrome de Avanço da Fase do Sono
Ciclo de Sono-vigília não de 24 Horas
Transtorno do Sono por Trabalho em Turnos
“Jet Lag”
Parassonias
EXAMES COMPLEMENTARES
Exames Laboratoriais e Exames de Imagem
Polissonografia
A
Insônia primária é diagnosticada quando há dificuldade para iniciar ou
manter o sono por período mínimo de 1 mês, independentemente de qualquer
condição médica ou psiquiátrica ou devido ao efeito fisiológico de
substâncias. Há um prejuízo clinicamente significativo ou comprometimento
funcional do indivíduo decorrente do sintoma. As queixas do sono são
persistentes ao longo do tempo, mas pode haver variação da intensidade, de acordo
com a presença de eventos estressantes. Geralmente há sobreposição com a
chamada insônia psicofisiológica.
A insônia
psicofisiológica ou condicionada refere-se à presença de
excitação fisiológica ou psicológica noturna e condicionamento negativo para o
sono. Usualmente acontece em indivíduos suscetíveis que apresentaram insônia
transitória associada à ocorrência de um evento estressante, mas que, mesmo
após a cessação deste evento, desenvolvem um quadro crônico de insônia. Ou
seja, esses indivíduos geralmente se preocupam com o sono, começam a ter medo
de ir para a cama e desenvolvem uma excitação condicionada ao ambiente normal
de sono, suficiente para interferir no sono.
Postula-se
que a Insônia primária seja parte de uma síndrome de hiperexcitabilidade do
SNC, já que esses pacientes podem ter comprometimento do sono associados a
outros sintomas, como o aumento da temperatura corpórea, da frequência cardíaca
e possivelmente do consumo metabólico. O diagnóstico é clínico e de
exclusão. A polissonografia de pacientes com Insônia
primária geralmente evidencia um aumento da latência do sono, despertar
frequente, diminuição do tempo total de sono e baixa eficiência do sono, bem
como desvios para estágios mais leves no PSG. Pacientes com insônia
psicofisiológica podem ter alterações semelhantes na polissonografia, mas os
achados podem ser relativamente normais, sugerindo a importância do componente
condicionado.
Alterações
de sono são bastante prevalentes em pacientes deprimidos (cerca de 80% dos
pacientes), sendo a insônia a alteração mais comum. Os pacientes se queixam de
dificuldade para iniciar o sono, sono entrecortado, qualidade insatisfatória de
sono e acordar precoce com dificuldade para voltar a dormir (insônia terminal
que geralmente acompanha a piora dos sintomas depressivos pela manhã). Na
polissonografia, pode-se constatar uma diminuição da latência e aumento da
densidade de sono REM, alteração da fase de ondas lentas e prejuízo da
continuidade do sono, entretanto nenhuma dessas alterações é patognomônica de
um quadro depressivo e podem ser vistas, por exemplo, em transtornos
distímicos.
A
insônia costuma ser sintoma cardinal dos quadros de hipomania e mania, precoce
às manifestações maniformes mais francas. Especula-se que a própria privação de
sono pode deter a estabilização do humor, desencadeando (ou intensificando)
episódios maníacos. Caracteristicamente, os pacientes em mania apresentam o
tempo de sono agudamente reduzido, mas podem ter uma grande quantidade de
energia a despeito da mínima quantidade de sono. Os registros de EEG podem ser
normais, mesmo em fase aguda, mas alguns estudos demonstram diminuição da
latência ao sono REM. O abuso de álcool e outras substâncias é comum em
pacientes bipolares e pode contribuir para a ocorrência ou agravamento de
insônia.
O
transtorno de pânico pode cursar com ataques noturnos, possivelmente implicados
no surgimento de ansiedade antecipatória e esquiva ao sono. Pode haver
exacerbação da insônia pelo abuso de álcool e sedativos. O transtorno de
ansiedade generalizada pode comumente estar associado à insônia e a alterações
polissonográficas, como aumento na latência do sono e diminuição da porcentagem
de sono, assim como o transtorno obsessivo-compulsivo.
Um
estado de hipervigilância também pode acompanhar o transtorno de estresse
pós-traumático. A polissonografia pode apontar diminuição do tempo total de
sono, aumento na latência do sono e na frequência de despertares e excitação do
tipo terror noturno.
Nos
pacientes com esquizofrenia, a insônia pode sinalizar a instalação de quadro
depressivo, novo surto psicótico ou ainda ser decorrente do uso de medicações.
Estudos com polissonografia apontam uma tendência de fragmentação do sono, uma
diminuição na quantidade do sono de ondas lentas em esquizofrênicos e uma
redução na latência do sono REM.
O
álcool é largamente utilizado para induzir o sono (automedicacão) em quadros de
insônia transitória ou crônica de etiologias variadas. O álcool facilita o
adormecer e reduz a latência do sono REM durante as primeiras horas de sono.
Entretanto, predispõe à interrupção e à fragmentação do sono e ao aumento do potencial
para pesadelos, mais tardiamente.
A
síndrome de abstinência de álcool cursa com insônia e a alteração de sono
costuma ser mais severa nos primeiros dias (sono curto, leve, fragmentado e
alterações consistentes no sono REM) e, caso a abstinência seja severa
(delirium tremens), pode persistir por tempo mais prolongado. Após meses de
abstinência, pode perdurar a queixa de insônia, acompanhada de alterações na
polissonografia, mas é necessário excluir que tal sintoma seja decorrente da
presença de transtornos afetivos e ansiosos.
A
insônia também pode acompanhar a abstinência de drogas sedativo-hipnóticas,
como os benzodiazepínicos. Ocorre na descontinuação abrupta, especialmente de
benzodiazepínicos de meia-vida curta. A interrupção de tais medicações também
pode precipitar a recorrência dos sintomas (p. ex., a própria insônia) que
geraram a sua própria demanda.
Os
estimulantes incluem drogas como cocaína, anfetaminas, derivados
anfetaminérgicos, efedrina e cafeína. A insônia é componente do efeito destas
substâncias e tipicamente ocorre a diminuição do tempo total de sono e do sono
REM, além do prolongamento da latência dos mesmos. É importante a investigação
e a estimativa do consumo de cafeína e nicotina dos pacientes com queixa de
insônia.
Os
pacientes com síndromes demenciais, como a doença de Alzheimer, podem
apresentar insônia, fragmentação do sono e sono de má qualidade (redução da
eficiência do sono). As doenças degenerativas do SNC podem cursar com
despertares frequentes e alteração da arquitetura do sono, assim como as
cefaléias crônicas.
Alterações
de sono geralmente acompanham as endocrinopatias, especialmente as alterações
de função tireoidiana (mais frequentemente o hipertireoidismo). Entretanto
outras patologias, como a síndrome de Cushing (hipercortisolemia), a doença de
Addison (insuficiência adrenocortical) e diabetes mellitus também foram
associadas à insônia.
A
fibromialgia e a síndrome da fadiga crônica são condições nas quais as queixas
de insônia e sono não-restaurador são comuns, muitas vezes em associação com
quadros depressivos e ansiosos.
Das
alterações de sono podem decorrer patologias cardíacas, como angina pectoris,
arritmias cardíacas ou insuficiência cardíaca congestiva (devido a sintomas
respiratórios como dispnéia, ortopnéia e dispnéia paroxística noturna).
Diversas
condições infecciosas podem levar a insônia, no geral secundária a outras
manifestações, como dor ou dificuldades respiratórias. A infecção pelo vírus
Epstein-Barr pode acarretar insônia e declínio na qualidade do sono e
alterações polissonográficas, assim como a infecção pelo HIV.
O
transtorno de movimento periódico dos membros (TMPM) consiste de contrações
abruptas estereotipadas periódicas do músculo tibial anterior com dorsiflexão
do tornozelo e dos artelhos, resultando em abalo da perna ou chute leve.
Geralmente não há consciência dos abalos por parte do paciente, sendo seu
relato feito pelo parceiro, que descreve sua movimentação excessiva (chutes,
pontapés) durante a noite. As queixas usualmente são de insônia crônica e
sensação de estar sempre acordado, em decorrência das contrações. Pode haver
associação com a síndrome das pernas inquietas. O diagnóstico é confirmado pela
polissonografia (a eletromiografia evidencia contrações musculares de padrão
característico) e a suspeita deve ser levantada pela história clínica na falha
de resposta a tratamentos usuais para insônia (o quadro pode piorar com uso de
antidepressivos).
A
síndrome das pernas inquietas (SPI) é uma disestesia, na qual o paciente tem
sensações desagradáveis e inquietantes, geralmente na panturrilha, que são
aliviadas pela movimentação das pernas. Caracteristicamente ocorre quando o
paciente se deita para dormir, interferindo no adormecer (a queixa frequente é
insônia inicial). Assim sendo, não pode ser encarada como um transtorno
verdadeiro do sono, já que seus sintomas aparecem na vigília. O diagnóstico é
clínico.
A apnéia do sono é a interrupção do fluxo
de ar pelo nariz ou pela boca por período maior que 10 segundos. Somente é
considerada patológica quando a frequência é superior a 5 episódios apnéicos por
hora ou 30 episódios por noite. Pode ser central (quando não há fluxo
de ar nem esforço respiratório dos músculos do diafragma e
intercostais), obstrutiva (cessa o fluxo de ar, mas os esforços
respiratórios aumentam, indicando uma obstrução das vias aéreas ao fluxo de ar)
ou mista (envolve elementos do tipo central e do tipo obstrutivo). As
apnéias cessam geralmente com um breve despertar, produzindo assim a sensação
de despertar frequente ou de não estar dormindo, além da queixa de insônia. Em
geral, não há queixas respiratórias diretas, mas ocasionalmente os pacientes
podem referir problemas respiratórios e roncos, além de alterações de humor, de
libido e cefaléia. Pode haver o relato, feito pelos parceiros, de roncos altos
e intermitentes e respiração irregular.
Apesar
de não ser comum, a apnéia do sono do tipo central é causa de insônia crônica,
especialmente em idosos. Sua incidência cresce com o avançar da idade e sua
ocorrência pode ocasionar alterações cardiovasculares importantes. O
diagnóstico é polissonográfico.
A
característica fundamental da hipersonia primária é uma sonolência excessiva
por um período mínimo de 1 mês. Pode ser diurna ou noturna (episódios
prolongados de sono à noite) e o sono é qualitativamente normal.
Para
o diagnóstico, é necessária evidência de comprometimento significativo no
funcionamento social, ocupacional ou outras áreas importantes da vida do
indivíduo. Também deve-se assegurar que a hipersonolência não é devida a outro
transtorno do sono, transtorno mental, condições clínicas gerais, uso de
substâncias ou quantidade inadequada de sono.
A
Narcolepsia apresenta as seguintes características fundamentais: ataques
repetidos e irresistíveis de sono reparador (2 a 6 por dia, que podem
durar de 1 minuto a 1 hora) nos últimos 3 meses, cataplexia (perda do tônus
muscular, que dura, em geral, alguns segundos) e intrusões recorrentes de
elementos do sono REM no período de transição entre o sono e a completa vigília
que, em 20 a 40% dos pacientes com Narcolepsia, trazem a vivência de
imagens oníricas ao adormecerem (alucinações hipnagógicas) ou ao despertarem
(alucinações hipnopômpicas). Após um ataque de sono irresistível, o nível de
vigília do indivíduo se restabelece completamente, tendendo à diminuição
algumas horas depois.
Apresenta-se
como horários de adormecer e de despertar mais tardios que o ideal para o
paciente. Há uma queixa de insônia inicial (no momento desejado de início do
sono), de dificuldade de despertar pela manhã e fadiga diurna nos dias em que o
indivíduo precisa acordar cedo. Uma vez iniciado o sono, não há alterações em
sua qualidade ou duração. Quando os pacientes dormem a quantidade adequada,
sentem-se descansados e não apresentam sonolência diurna. É frequente que estes
indivíduos relatem a sensação de ficarem mais alertas e dispostos no decorrer
do dia, alguns podendo inclusive adequar suas atividades ao ritmo de sono.
Trata-se
de uma síndrome comum, com início na adolescência e começo da vida adulta.
Deve-se sempre investigar a presença de transtornos de humor e de ansiedade
nestes pacientes.
Caracteriza-se
por horários de dormir e despertar mais precoces que o desejado pelo paciente.
Frequentemente estes pacientes adormecem perto das 20 horas e despertam
tipicamente no meio da madrugada (entre 3 e 5 horas). Não há dificuldade na
manutenção do sono e seu tempo de duração é normal. Trata-se uma síndrome menos
comum que a de atraso da fase do sono e deve-se rastrear, nesses pacientes, a
presença de transtornos afetivos, aos quais se relacionam aparentes avanços em
aspectos do ritmo circadiano.
A
síndrome de sono-vigília maior que 24 horas caracteriza-se por ritmos circadianos
superiores a 25 horas, acompanhados de comprometimento na adaptação social.
Geralmente ocorre em indivíduos cegos, nos quais a resposta à luz (como
elemento determinador do ritmo circadiano) pode estar prejudicada. Deve-se
investigar o consumo abusivo de substâncias psicoativas, principalmente
estimulantes.
Os
indivíduos que trabalham em turnos podem se queixar de insônia, despertar
frequente e sono não-restaurador. Com frequência as alterações de sono são
acompanhadas de fadiga e sonolência crônicas, prejuízo de atenção e de
desempenho profissional. Estes indivíduos podem fazer abuso de álcool e
sedativos para dormir e estimulantes, como cafeína e nicotina, para se manterem
alertas. Estão mais suscetíveis ao surgimento de sintomas depressivos crônicos,
queixas somáticas diversas, além de maior incidência de úlceras e infarto do
miocárdio que a população geral.
Trata-se
de uma assincronia súbita do ritmo circadiano fisiológico (ciclo noite-dia),
induzida por alterações agudas de fuso horário, em viagens. Os indivíduos
apresentam insônia inicial, sonolência e fadiga diurna, sintomas que geralmente
desaparecem de forma espontânea com a adaptação ao novo fuso, em um prazo de 2
a 7 dias.
As
parassonias representam à ativação de sistemas fisiológicos em momentos
impróprios, durante o ciclo sono-vigília. Em geral, há o acionamento do sistema
nervoso autônomo, sistema motor ou de processos cognitivos durante o sono ou na
transição com a vigília.
Na
polissonografia, pode-se observar, no caso dos pesadelos, despertares abruptos
do sono REM que ocorrem, em geral, na segunda metade da noite. Uma leve
excitação autonômica é observada, além de um aumento no número de movimentos
oculares.
O
terror noturno começa durante o sono NREM profundo (sono delta) e, portanto,
está mais propenso a ocorrer na primeira terça parte da noite. O início dos
episódios é prenunciado por um aumento de tônus muscular e de 2 a 4
vezes na frequência cardíaca. O EEG normalmente mostra uma atividade teta ou
alfa durante o episódio, indicando um despertar parcial.
O
sonambulismo é caracterizado por comportamento motor complexo iniciado durante
o sono, principalmente na primeira terça parte da noite (sono de ondas lentas –
estágios 3 e 4 NREM). O indivíduo apresenta uma redução do estado de alerta e
da responsividade. No EEG, podem ser observados elementos de alerta, como
atividade alfa, durante a fase de sono profundo. Os episódios de sonambulismo
podem terminar em despertares espontâneos, seguidos de um breve período de
confusão.
Não
existem baterias de exames laboratoriais que possam ser solicitadas de forma
universal para o diagnóstico diferencial das diversas causas de insônia ou de
outros distúrbios do sono. Os exames devem ser pedidos de forma
individualizada, guiados pelas hipóteses diagnósticas. Apesar disto, pode-se
dizer que alguns exames, como as provas de função tireoidiana, são relevantes,
devido à forte associação entre seu desequilíbrio e alterações de sono.
A
solicitação dos exames de imagem segue a lógica dos exames laboratoriais. Os
exames de neuroimagem podem ser úteis nas suspeitas de patologias do SNC ou na
investigação de quadros psiquiátricos iniciais ou atípicos.
A
polissonografia (PSG) é o registro de diversos parâmetros fisiológicos
relativos ao sono (como tempo total de sono, duração e proporção dos estágios
do sono, latência para início do sono, latência para início do sono REM e
demais estágios, eficiência do sono etc.) e também o registro da respiração,
frequência cardíaca, ritmo cardíaco e de movimentos periódicos durante o sono.
Tal registro é realizado durante uma noite inteira de sono.
As
indicações para a solicitação de uma PSG incluem a suspeita de condições
intrínsecas ao sono (apnéia do sono e transtorno de movimentos periódicos do
sono), insônia de etiologia indefinida, suspeita de parassonias e falha
na resposta ao tratamento instituído. Também pode ser útil no planejamento
do tratamento, a partir da obtenção de informações fisiológicas adicionais.
Fonte: Melissa Garcia
Tamelini
Especialista em Psiquiatria pelo
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(HC-FMUSP)
Susan Meire Mondoni
Especialista em Psiquiatria pelo
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(HC-FMUSP)
Mestrado em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP