Síndrome do Esgotamento ou Síndrome de Burn Out
Antonio Leandro Nascimento e Marco Antonio Alves Brasil
A manifestação dos transtornos mentais ocorre através da interação de uma predisposição individual, de origem genética, com fatores do meio ambiente, como pressões ambientais, alterações no estilo de vida, uso de substâncias psicoativas ou ainda eventos ocorridos na vida de cada indivíduo. Dentre os transtornos mentais, um foi relacionado especificamente aos estressores relacionados ao trabalho: a síndrome do esgotamento profissional.
A síndrome do esgotamento (ou síndrome de burn out) foi descrita inicialmente na década de 1970. Esta síndrome foi descrita inicialmente em indivíduos cujos trabalhos envolvem a necessidade de cuidar de outras pessoas ou o contato intenso com pessoas, como médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, além de professores, porém, mais recentemente, a síndrome do esgotamento profissional vem sendo identificada em profissionais de diversas outras áreas. Esta síndrome pode ser descrita como resultado da relação com um ambiente que a pessoa considera significativo para seu bem-estar em que as demandas excedem a capacidade do indivíduo. Desta maneira, a síndrome do esgotamento seria o resultado da exposição crônica a estressores emocionais e interpessoais relacionados ao ambiente de trabalho, levando a geração de três dimensões de sintomas: sensação de exaustão, despersonalização e diminuição da recompensa pessoal no trabalho.
Mais recentemente, sintomas desta síndrome foram descritos em pessoas que cuidam de familiares afetados por doenças que causam grandes restrições à vida independente e tornam os pacientes dependentes de cuidados de terceiros, como alguns tipos de demências, autismo ou alguns transtornos mentais graves.
Pessoas afetadas pela síndrome do esgotamento profissional apresentam um risco maior de desenvolverem uso abusivo de álcool e outras substâncias psicoativas, idéias de suicídio e doenças cardiovasculares (e de apresentarem pior controle das doenças cardiovasculares). As empresas em que estas pessoas trabalham também sofrem através do aumento do absenteísmo, aumento da rotatividade de empregados, do número de greves, redução da produtividade e da qualidade do trabalho, aumento da taxa de acidentes e da degradação da comunicação entre os funcionários, dos processos decisórios e das relações de trabalho.
Uma sequência de eventos que poderia levar ao esgotamento já foi descrita e poderia servir como alerta às pessoas em risco para o desenvolvimento deste transtorno.
– Necessidade de se afirmar.
– Dedicação intensificada, com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho.
– Descaso com as necessidades pessoais (comer, dormir, sair com os amigos).
– O portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema.
– Isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da auto-estima é o trabalho.
– Negação de problemas – nessa fase os outros são completamente desvalorizados e tidos como incapazes. Os contatos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes.
– Recolhimento.
– Mudanças evidentes de comportamento.
– Despersonalização.
– Vazio interior.
– Depressão – marcas de indiferença, desesperança, exaustão.
– Síndrome do esgotamento profissional.
Sintomas:
A presença de três grupos de sintomas é fundamental para o diagnóstico deste transtorno: exaustão emocional (o indivíduo sente-se esgotado e com a sensação de que não será possível recuperar sua energia, torna-se irritável, amargo e pessimista, sente-se menos capacitado a cuidar dos outros), na despersonalização (há um distanciamento emocional e uma indiferença diante do sofrimento alheio, com uma perda da capacidade de empatia) e comprometimento da realização pessoal (um comportamento apresentado pelos pacientes que tendem a avaliar negativamente sua capacidade de desenvolver tarefas e de interagir com as pessoas para quem elas são realizadas e sentimentos de infelicidade e insatisfação com os resultados obtidos).
Além destes três grupos, a síndrome do esgotamento pode causar diversos outros sintomas que também estão presentes em outros transtornos mentais, como: sintomas de depressão (tristeza constante, fadiga, apatia, perda de interesse ou prazer em atividades que antes eram apreciadas pelo paciente, insônia ou sonolência excessivas, redução ou aumento do apetite), ansiedade (uma sensação constante de desconforto subjetivo, inquietação, taquicardia, tremores, vômitos) e também variados sintomas físicos, como dores de cabeça, tremores, falta de ar e problemas digestivos.
Pessoas atingidas pela síndrome do esgotamento profissional podem apresentar mudanças de atitude negativas, como a redução das metas de trabalho, perda do idealismo, aumento exagerado do interesse em suas atividades pessoais com prejuízo das atividades relacionadas ao trabalho, distanciamento dos clientes, como uma forma de lidar com os sintomas da doença.
A síndrome do esgotamento profissional pode facilmente ser confundida com o estresse relacionado ao trabalho e também com depressão. A síndrome de burn out é uma reação do indivíduo constantemente exposto ao estresse em seu trabalho e sem estratégias que o permitam lidar adequadamente com este estresse. Em relação à depressão, no esgotamento profissional predominam a irritação e a raiva, em vez de culpa. E este transtorno é, pelo menos inicialmente, especificamente relacionado ao trabalho, de modo que uma pessoa que está apresentando prejuízos em suas atividades laborativas pode apresentar funcionamento normal em outros aspectos de sua vida.
Três perfis distintos de pacientes já foram propostos para a síndrome do esgotamento. Estes tipos podem ser diferenciados de acordo com seu grau de envolvimento no trabalho, suas expectativas em relação ao resultado de suas atividades e na maneira como lidam com suas frustrações.
Tipo frenético: pacientes com este tipo de perfil clínico lidam com as dificuldades relacionadas ao trabalho através de maior envolvimento no trabalho e mais esforços. Com este aumento de dedicação, os indivíduos esperam aumentar a chance de produzirem os resultados esperados. Uma vez que percebem que ainda assim os resultados não correspondem à magnitude de seus esforços, trabalham com mais determinação ainda. Frequentemente, estes indivíduos esperam reconhecimento e aprovação de outras pessoas por seus esforços. Muitas vezes, seus objetivos são extremamente ambiciosos ou baseados em uma visão idealizada do mundo, a ponto de serem inalcançáveis. Quando se defrontam com o fracasso, ou quando não atingem objetivos tão elevados quanto os que almejavam, os indivíduos resistem a mudar seu ponto de vista, muitas vezes negligenciando suas necessidades e seu bem-estar para aumentar a possibilidade de sucesso. Isso os leva a desenvolver sintomas de ansiedade e irritabilidade como parte da síndrome do esgotamento profissional.
Tipo desmotivado: pacientes com este tipo de perfil clínico lidam com as dificuldades relacionadas ao trabalho através da indiferença e do distanciamento; sem muito investimento, mas sem negligência. Por conta da síndrome de esgotamento profissional, estas pessoas vêm seu trabalho como não sendo suficientemente atrativo para justificar o esforço empregado. Eles trabalham de maneira desinteressada, embora não sejam negligentes. Tornam-se desinteressados, pois não encontram significado ou prazer em suas atividades, além de não conseguirem perceber os resultados de seu trabalho nas outras pessoas, nem reconhecimento pessoal. Muitas vezes, estas pessoas sentem que sua qualificação está acima das necessidades de seu trabalho. Isto os leva a questionar a adequação de seu trabalho atual ao seu perfil e contemplar outros tipos de trabalho e muitas vezes sentem-se entorpecidos caso se mantenham em seu emprego original. De maneira diferente dos indivíduos com perfil clínico frenético, os pacientes do tipo desmotivado parecem não se defrontar com grandes sobrecargas de trabalho.
Tipo esgotado: pacientes com este tipo de perfil clínico lida com as dificuldades relacionadas ao trabalho negligenciando suas responsabilidades, a ponto de desistir quando enfrentam qualquer dificuldade. Estes trabalhadores atingem um grau de pessimismo tão elevado devido à síndrome do esgotamento profissional que parecem perder todo o entusiasmo por seu trabalho e desistem de empreender qualquer esforço adicional em razão de revezes em suas carreiras. Esses trabalhadores frequentemente minimizam a importância de suas tarefas e também seus objetivos, com a sensação de que não podem se dedicar mais e também que os resultados estão além de seu controle. Este tipo de perfil é comum em organizações com regras burocráticas, sem um sistema de reconhecimento adequado de desempenho e onde os trabalhadores têm pouca autonomia. Os pacientes com este perfil clínico muitas vezes desenvolvem sintomas de depressão, principalmente apatia e redução de energia.
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