Veículo: JORNAL DO COMMERCIO -
PE
Editoria: POLÍTICA
Autor: Angela Belfort abelfort@jc.com.br
Tipo: Matéria
Data: 12/12/2015
Assunto: SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,
SECRETARIA DE HABITAÇÃO
Corrupção marca as grandes obras
PREJUÍZO Transposição do São Francisco,
Hemobrás e Refinaria Abreu e Lima são empreendimentos considerados
estruturadores no Estado, mas marcados pelos desvios
P elo menos três obras consideradas
estruturadoras no Estado têm as marcas da corrupção e vão sair por um orçamento
muito maior do que o inicialmente previsto. São a Transposição das Águas do Rio
São Francisco, a Hemobrás e a Refinaria Abreu e Lima. As duas primeiras foram
alvo de operações da Polícia Federal ontem e na última quarta-feira. São obras
que ficarão muito mais caras e vão demorar mais ainda para serem
concluídas.
"São obras que não terminam. Só a demora já torna
essas obras muito mais caras e esse prejuízo é maior do que a corrupção", diz o
diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. É como a
reforma de uma casa. Quanto mais paralisações, mais o serviço vai ficando caro,
às vezes o pedreiro desiste, outro tem que ser contratado e cobra mais do que o
primeiro, o material comprado se estraga e por aí vai. A refinaria vai sair
quase 10 vezes mais cara que o seu orçamento inicial. A Hemobrás vai sair por
quase três vezes o orçamento inicial.
E a transposição teve um incremento de preço
superior a 80% e, segundo alguns técnicos, sairá por mais do que os R$ 8,2
bilhões já anunciados pelo Ministério da Integração Nacional. Pelos dados
revelados ontem pela Polícia Federal, a maior parte do desvio nas obras da
transposição foi na terraplenagem. "Como o custo pode ser compatível com o
serviço a ser realizado se a transposição começou sem ter os projetos executivos
prontos?", questiona um empresário da construção civil em reserva.
Projetos executivos são aqueles que fazem um
estudo mais aprofundado, dizendo, por exemplo, o tipo de solo e que obstáculos
devem ser retirados para fazer uma terraplenagem. Com a desculpa de tirar a
transposição do papel, o presidente Lula (PT) autorizou o início da obras da
Transposição sem um projeto executivo e as licitações se basearam num projeto
básico realizado em 2001. Segundo especialistas, essa diferença deixa a porta
aberta para a corrupção e o sobrepreço do serviço.
Mas isso não ocorreu apenas com a transposição. A
terraplenagem da Refinaria Abreu e Lima também teve indícios de superfaturamento
apontados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "Tinha que ter punição para
quem permitiu a execução desses projetos com falhas. O problema é que, às vezes,
é difícil separar o que é corrupção da incompetência", revela Adriano.
E continua: "somente a Petrobras colocou R$ 6
bilhões que foram considerados perdidos no seu balanço de 2014 devido à
corrupção." Na Transposição, a Operação Vidas Secas - um desdobramento da
operação Lava Jato - revelou um desvio estimado em R$ 200 milhões num trecho da
transposição que valia R$ 680 milhões.
Informações da própria Polícia Federal indicam
que esse valor pode ser muito maior. Na Hemobrás, os dados preliminares indicam
um desvio de R$ 30 milhões. As outras consequências da corrupção, segundo Pires,
são "os empregos que deixaram de ser gerados, o impacto que a falta desse
empreendimentos trazem à economia e, por último, o afastamento dos investidores
sérios", comenta.
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