segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Veículo: JORNAL DO COMMERCIO - PE

Editoria: POLÍTICA

Autor: Angela Belfort abelfort@jc.com.br

Tipo: Matéria

Data: 12/12/2015

Assunto: SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SECRETARIA DE HABITAÇÃO



Corrupção marca as grandes obras

PREJUÍZO Transposição do São Francisco, Hemobrás e Refinaria Abreu e Lima são empreendimentos considerados estruturadores no Estado, mas marcados pelos desvios
 
P elo menos três obras consideradas estruturadoras no Estado têm as marcas da corrupção e vão sair por um orçamento muito maior do que o inicialmente previsto. São a Transposição das Águas do Rio São Francisco, a Hemobrás e a Refinaria Abreu e Lima. As duas primeiras foram alvo de operações da Polícia Federal ontem e na última quarta-feira. São obras que ficarão muito mais caras e vão demorar mais ainda para serem concluídas.
 
 
"São obras que não terminam. Só a demora já torna essas obras muito mais caras e esse prejuízo é maior do que a corrupção", diz o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. É como a reforma de uma casa. Quanto mais paralisações, mais o serviço vai ficando caro, às vezes o pedreiro desiste, outro tem que ser contratado e cobra mais do que o primeiro, o material comprado se estraga e por aí vai. A refinaria vai sair quase 10 vezes mais cara que o seu orçamento inicial. A Hemobrás vai sair por quase três vezes o orçamento inicial.
 
 
E a transposição teve um incremento de preço superior a 80% e, segundo alguns técnicos, sairá por mais do que os R$ 8,2 bilhões já anunciados pelo Ministério da Integração Nacional. Pelos dados revelados ontem pela Polícia Federal, a maior parte do desvio nas obras da transposição foi na terraplenagem. "Como o custo pode ser compatível com o serviço a ser realizado se a transposição começou sem ter os projetos executivos prontos?", questiona um empresário da construção civil em reserva.
 
 
Projetos executivos são aqueles que fazem um estudo mais aprofundado, dizendo, por exemplo, o tipo de solo e que obstáculos devem ser retirados para fazer uma terraplenagem. Com a desculpa de tirar a transposição do papel, o presidente Lula (PT) autorizou o início da obras da Transposição sem um projeto executivo e as licitações se basearam num projeto básico realizado em 2001. Segundo especialistas, essa diferença deixa a porta aberta para a corrupção e o sobrepreço do serviço.
Mas isso não ocorreu apenas com a transposição. A terraplenagem da Refinaria Abreu e Lima também teve indícios de superfaturamento apontados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "Tinha que ter punição para quem permitiu a execução desses projetos com falhas. O problema é que, às vezes, é difícil separar o que é corrupção da incompetência", revela Adriano.
E continua: "somente a Petrobras colocou R$ 6 bilhões que foram considerados perdidos no seu balanço de 2014 devido à corrupção." Na Transposição, a Operação Vidas Secas - um desdobramento da operação Lava Jato - revelou um desvio estimado em R$ 200 milhões num trecho da transposição que valia R$ 680 milhões.
Informações da própria Polícia Federal indicam que esse valor pode ser muito maior. Na Hemobrás, os dados preliminares indicam um desvio de R$ 30 milhões. As outras consequências da corrupção, segundo Pires, são "os empregos que deixaram de ser gerados, o impacto que a falta desse empreendimentos trazem à economia e, por último, o afastamento dos investidores sérios", comenta.


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