A EDUCAÇÃO DOS SENTIMENTOS E O DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA
EMOCIONAL
*Karla Júlia Marcelino
RESUMO
A compreensão do significado dos sentimentos, através do auto-conhecimento, identificando como
eles se manifestam no ser, torna-se um passo imprescindível para a mudança comportamental e
consequente melhoria das relações intra e interpessoais. Os nossos pensamentos, sentimentos,
palavras, ações refletem as crenças, valores, visão de mundo internalizadas através da educação. A
identificação de sentimentos que geram estados de sofrimentos possibilitará alcançar uma maior
compreensão quanto às suas causas e consequências. Através da educação dos sentimentos e o
desenvolvimento da inteligência emocional, estaremos alcançando o equilíbrio entre o pensar, sentir
e agir e conseqüentemente, melhorando as nossas relações humanas e profissionais.
Palavras-chave: Educação. Sentimentos. Inteligência Emocional. Conhecimento. Competências.
1. Introdução
Estamos diante de um mundo globalizado e competitivo, em constantes transformações. As
organizações enfrentam desafios de ordem econômico-social, política e financeira, onde os
dirigentes, gestores e líderes organizacionais se deparam com novos conceitos e metodologias,
inovação tecnológica, numa velocidade acelerada que, quando começam a ser processadas, os
paradigmas já se alteraram. A internet facilitou o acesso às informações, o que antes era privilégio
de poucos e podemos falar da era virtual vivenciada naturalmente por milhões de criaturas.
Contudo, ainda somos os grandes desconhecidos de nós próprios. Os sentimentos, emoções,
pensamentos, atrações, repulsas, simpatias e antipatias manifestam-se ainda de forma
incompreensível e sem controle, dificultando as relações intra e interpessoais. Os erros alheios são
visíveis aos nossos olhos, contudo, e os nossos defeitos e tendências negativas, são devidamente
observadas por nós?
A palavra educação vem do latim “educare ou educere. Provérbio: e, verbo ducare, ducere. Significa
ato de educar; conjunto de normas pedagógicas aplicadas ao desenvolvimento geral do corpo e do
espírito. Promover educação; transmitir conhecimentos; ensejar condições para o educando
modificar para melhor” (Dicionário Aurélio).
Kardec, eminente pedagogo francês (1857) nos esclarece que:
“A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se
conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências,
conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte,
porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação”.
Na Wikipedia (2010), encontramos uma definição de Sentimentos:
de forma genérica são informações que seres biológicos são capazes de sentir nas situações
que vivenciam.
Abraham Maslow, professor de Harvard comentou que todos os seres
humanos nascem com um senso nato de valores pessoais positivos e negativos. Somos
atraídos por valores pessoais positivos tais como justiça, honestidade, verdade (...).
Atualmente o termo sentimento é também muito usado para designar uma disposição
mental, ou de propósito, de uma pessoa para outra ou para algo. Os sentimentos assim,
seriam ações decorrentes de decisões tomadas por uma pessoa.
Geralmente confunde-se sentimentos com emoções. Sentimentos são estados afetivos produzidos
por diversos fenômenos da vida intelectual ou moral. De forma geral, pode-se afirmar que os
sentimentos são duradouros e fáceis de esconder; já as emoções, por serem corporais e espontâneas,
são mais visíveis (mãos suadas, choro, riso...).
Como nos explica Jolivet (1964, p.73) “emoção é um
fenômeno afetivo complexo, provocado por um choque brusco e compreendendo um abalo mais ou
menos profundo na consciência”.
C. LAHR (1964) também explica que emoção é o estado afetivo
intenso muito complexo proveniente da reação ao mesmo tempo mental e orgânico do indivíduo
todo, sob a influência de certas excitações internas ou externas, pois, nisto se vê a diferença
existente com o termo sentimento.
Inteligência emocional é um conceito em Psicologia que descreve a capacidade de reconhecer os
próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles.
Goleman definiu
inteligência emocional como:
"...capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos
motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos"
(1998).
Para aquele autor, a inteligência emocional é a maior responsável pelo sucesso ou insucesso dos
indivíduos. Como exemplo, recorda que a maioria das situações de trabalho é envolvida por
relacionamentos interpessoais, desse modo, pessoas com qualidades de relacionamento humano,
como afabilidade, compreensão e gentileza têm mais chances de obter o sucesso.
Assim, a
inteligência emocional pode ser categorizada em cinco habilidades:
.Auto-Conhecimento Emocional - reconhecer as próprias emoções e sentimentos quando
ocorrem.
.Controle Emocional - lidar com os próprios sentimentos, adequando-os à cada situação vivida.
.Auto-Motivação - dirigir as emoções à serviço de um objetivo ou realização pessoal.
.Reconhecimento de emoções em outras pessoas - reconhecer emoções no outro e empatia de
sentimentos; e
.Habilidade em relacionamentos inter-pessoais - interação com outros indivíduos utilizando
competências sociais.
Enquanto nos comprazemos nas paixões, reincidindo nos erros, numa atitude desatenta quanto aos
aspectos que necessitam serem modificados ou burlados na nossa intimidade, enfrentaremos
angústias e conflitos existenciais. As oportunidades do aprendizado na convivência com o próximo
e consigo mesmo não devem ser desperdiçadas.
Para Eugênio Mussak (2003, p. 62-65),
Conhecimento é informação com significado, capaz de criar movimento, modificar fatos,
encontrar caminhos, construir utilidade (...). Conhecimento é algo pessoal, propriedade de
quem o detém, e não pode ser transferido de uma pessoa a outra por inteiro, com todas as
suas características, sentimentos, detalhes e significados.
Os nossos pensamentos, sentimentos, palavras, ações refletem as crenças, valores, visão de mundo
internalizadas através da educação. A identificação de sentimentos que geram estados de
sofrimentos possibilitará alcançar uma maior compreensão quanto às suas causas e consequências.
Relacionaremos a seguir, conforme Ney Prieto Peres (1991, p.77 a 109), alguns dos sentimentos
negativos de conotação “perturbadora”: orgulho, vaidade, inveja, ciúme, avareza, ódio, remorso,
vingança, agressividade, personalismo, maledicência, intolerância, impaciência, negligência e
ociosidade.
Ouvir significa ter paciência e tolerância para aceitar a outra pessoa como ela é, com suas
qualidades e defeitos, crenças e emoções, sem pré-julgamentos. Conforme nos diz Penha “Ouvir é
mais que uma atitude de educação, é sinônimo de inteligência, porque em geral, as pessoas têm
sempre algo importante a nos dizer, que às vezes pode fazer toda a diferença no nosso próprio
trabalho “ (2008, 93).
2. Gestão por Competências
Segundo RABAGLIO (2008, p.9),
Gestão é o ato de gerir, de administrar. São os meios através dos quais se gerem uma
equipe, uma instituição, um projeto ou uma empresa.
A gestão por Competência, segundo a mesma autora, está baseada numa tríade conhecida como
CHA, compreendendo os conhecimentos, as habilidades e as atitudes de uma pessoa. O
conhecimento tem relação com a formação acadêmica, informações recebidas e o investimento na
vida profissional. A habilidade está ligada ao prático, à vivência e ao domínio do conhecimento. Já
a atitude representa as emoções, os valores e sentimentos das pessoas, que compreende o
comportamento humano.
A palavra gestor vem do latim gestore e de um modo geral os dicionários convergem para aquele
que gere, dirige ou administra bens, negócios ou serviços.
Chiavenato (2007) coloca que para alcançar resultados o gestor precisa desenvolver competências
fundamentais: conhecimento, habilidades, julgamento e atitude. E as competências fundamentam-se
em habilidades necessárias a um gestor:
Habilidades técnicas consiste em utilizar conhecimentos, métodos, técnicas e
equipamentos necessários para a realização de tarefas específicas com base em seus
conhecimentos e experiência profissional. [...] As habilidades humanas: consistem na
capacidade e no discernimento para trabalhar com pessoas e, por intermédio delas, saber
comunicar, compreender suas atitudes, motivações e desenvolver uma liderança eficaz. [...]
as habilidades conceituais: consistem na capacidade de lidar com idéias e conceitos
abstratos. Essa habilidade permite que o administrador faça abstrações e desenvolva
filosofias, valores e princípios de ação (2007, p.69).
Para o mesmo autor, as competências pessoais transformam pessoas em talentos” (CHIAVENATO,
2007, p. 388).
Com a padronização dos sistemas de gestão, as empresas desenvolveram capacidade suficiente para
operar de maneira produtiva nesse processo de gestão por competências, garantindo assim um bom
posicionamento no mercado competitivo, agregando valores, pela modernidade e efetividade de seu
embasamento técnico, teórico e prático.
4. Considerações
O conhece-te a ti mesmo, conforme nos ensinou um sábio da antiguidade (Sócrates), será o meio
mais prático de transformação interior. Quando por livre e espontânea vontade, não nos dispomos a
enveredar neste processo de auto-conhecimento, buscando identificar o porquê das nossas reações
negativas aos fatores externos no relacionamento social, somos impulsionados pelos entre-choques
afetivos com aqueles do nosso convívio (família, trabalho, grupos sociais) a nos conhecer.
Aprendemos muito na convivência, através de nossas reações com o meio e as manifestações que o
meio nos provoca, atingindo-nos emocionalmente. No convívio com o próximo, aprendemos a
identificar nossas reações indesejáveis de comportamento e a discipliná-las. O conhecer-se é o
próprio processo de auto-conscientização do reconhecimento de nossas limitações e da mobilização
de esforços em superá-las.
No relacionamento humano, a eficiência em lidar com outras pessoas é muitas vezes prejudicada
pela falta de habilidades, de compreensão e de trato interpessoal. As pessoas que têm mais
habilidades em compreender os outros e têm traquejo interpessoal são mais eficazes no
relacionamento humano.
Assim, através da educação dos nossos próprios sentimentos e do desenvolvimento da inteligência
emocional, estaremos alcançando o equilíbrio entre o pensar, sentir e agir e conseqüentemente,
melhorando as nossas relações humanas e profissionais.
Referências
. CHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. 4. Ed. Rio de
Janeiro:Elsevier, 2007, p.69 e 388.
. GOLEMAN, Daniel. Emotional intelligence. New York: Bantam Books, 1995.
. JOLIVET, Régis. In: FONTANA, D. F. Filosofia do Vestibular. São Paulo, Saraiva, 1964, p. 73.
. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos: Filosofia Espiritualista. São Paulo, 51 º Edição,Lake, 1991.
. LAHR, C. In: FONTANA, D. F. Filosofia do Vestibular. São Paulo, 1964, p. 70.
. Mussak, Eugenio. Metacompetência:Uma nova visão do trabalho e da realização pessoal.são
Paulo:Editora /gente, 2003, p.62,65.
. PENHA, Cícero Domingos.Atitude é querer:como a atitude faz a diferença na carreira, nos
negócios e na vida.Rio de Janeiro:Qualitymark, 2008, p.93.
.PERES, Ney Prieto. Manual prático do Espírita. São Paulo:Editora Pensamento, 1990, p.78 a 109.
.RABAGLIO, Maria Odete. Gestão por Competência: ferramentas para atração e captação de
talentos humanos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2008 p.9.
.Wikipedia. Disponível em; em HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/sentimento.Acesso em: 21 de set.2010
Karla Júlia Marcelino: Graduação em Serviço Social. Foi instrutora do curso Implantação e Gestão de Ouvidoria no CEFOSPE e Gestão de Ouvidoria da Pós-Graduação na ESURP. Tem pós-graduação em Gestão Governamental (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Pública e Serviços Sociais (UFPE) e Intervenção Psicossocial à Família no Judiciário (UFPE) e Psicologia Organizacional/NUPESF. Ministra palestras no Estado e área privada. Elaborou a Cartilha de Assédio Moral do Estado de PE. Implantou a Ouvidoria-Geral do Estado e a Rede de Ouvidores de PE. (karlajuliam@bol.com.br)
Karla Júlia Marcelino: Graduação em Serviço Social. Foi instrutora do curso Implantação e Gestão de Ouvidoria no CEFOSPE e Gestão de Ouvidoria da Pós-Graduação na ESURP. Tem pós-graduação em Gestão Governamental (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Pública e Serviços Sociais (UFPE) e Intervenção Psicossocial à Família no Judiciário (UFPE) e Psicologia Organizacional/NUPESF. Ministra palestras no Estado e área privada. Elaborou a Cartilha de Assédio Moral do Estado de PE. Implantou a Ouvidoria-Geral do Estado e a Rede de Ouvidores de PE. (karlajuliam@bol.com.br)
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