"Sucesso não tem a ver com o dinheiro que você ganha. Tem a ver com
a diferença que você faz na vida das pessoas" (Michelle
Obama).
A Surpreendente Verdade Sobre o Que Nos Motiva
A ciência das motivações ensina que não somos tão manipuláveis e previsíveis quanto imaginam
por Daniel H.
Pink*
Nossas motivações são
inacreditavelmente interessantes. Tenho trabalhado nisso há alguns anos e ainda
acho o tema tão incrível e envolvente que quero falar com vocês sobre isso.
A ciência das motivações é mesmo
surpreendente e um pouco maluca. Não somos infinitamente tão manipuláveis e
previsíveis quanto todos imaginam. Há um conjunto incrível de estudos sobre isso
que é muito interessante.
Quero falar com vocês sobre dois
estudos que colocam em questão a ideia de que se você recompensa alguém por
algo, terá mais do comportamento que deseja, e se você pune alguém, terá menos
do comportamento que não quer.
Vamos, então, para as ruas de
Massachusetts, no norte oriental dos Estados Unidos, para falar sobre um estudo
feito no MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Fizeram assim: pegaram
um grupo de estudantes e deram-lhes um conjunto de desafios, como memorizar
sequências de dígitos, resolver palavras cruzadas, outros jogos de passatempo e
até tarefas físicas como arremessar uma bola para dentro de um arco. Deram-lhe
esses desafios e, para incentivar o desempenho dos alunos nas tarefas, definiram
três níveis de recompensas. Quem fizesse algo minimamente bem ganharia uma
pequena recompensa em dinheiro; quem fosse mediano, ganharia uma recompensa
monetária mediana, e quem fosse realmente muito bom, o melhor, ganharia uma
enorme quantia de dinheiro.
Já assistimos a esse filme
antes: é essencialmente o esquema típico de motivação das organizações, que
premia os de maior desempenho e ignora os de baixo desempenho e os medianos.
O que aconteceu então? Fizeram
os testes com esses incentivos e aí descobriram que enquanto a tarefa envolvia
apenas habilidades mecânicas, o incentivo funcionou como esperado: quanto maior
o salário, maior o desempenho. Certo. Isso faz sentido. Mas veja o que aconteceu
também: se a tarefa dependia de uma habilidade cognitiva, mesmo que rudimentar,
uma maior recompensa levou a um desempenho pior. Ora, isso é estranho uma
recompensa maior levar a um desempenho menor. Como isso era possível?
O que é interessante é que as
pessoas que fizeram esse estudo são economistas; dois do MIT, um da Universidade
de Chicago e um da Carnegie Mellon. Todos das melhores universidades de
economia. E o que eles descobriram foi essa conclusão aparentemente contrária ao
que todos nós aprendemos em economia, que é quanto maior a recompensa, melhor o
desempenho. E agora estão dizendo que, para conseguir um bom desempenho em
atividades cognitivas rudimentares, é preciso fazer diferente pois a noção de
recompensas não funciona desse jeito? Parece um lance de esquerda e socialista,
não parece? Seria um tipo de conspiração socialista esquisita?
Para os que acreditam nessas
teorias da conspiração, vou apontar o grupo socialista e notoriamente de
esquerda que financiou esse estudo: o Federal Reserve Bank, o banco central dos
Estados Unidos. Portanto, foram os maiores entre os maiorais do capitalismo que
concluíram algo bastante surpreendente e que parece desafiar as leis da física
comportamental. Então, esse achado estranho é mesmo muito estranho. E o que eles
fizeram?
Se isso é estranho, vamos
testar em outro lugar. Talvez esse prêmio de 50 ou 60 dólares não seja
suficiente para motivar um aluno do MIT. Vamos para um lugar onde esse dinheiro
seja realmente mais significativo. Vamos reproduzir essa experiência no interior
rural da Índia, onde 50 ou 60 dólares são uma quantia enorme de dinheiro.
Então reproduziram o experimento
na Índia, mais ou menos da seguinte forma: baixos desempenhos seriam
recompensados com o salário de duas semanas; o desempenho mediano ganharia a
recompensa de um mês de salário, e altos desempenhos ganhariam o salário de dois
meses. Assim, esses seriam incentivos realmente bons para conseguir resultados
diferentes daqueles dos Estados Unidos.
O que aconteceu dessa vez foi
que, embora os medianos não tenham sido melhores que os de baixo desempenho, os
que receberam a oferta de maior recompensa tiveram o pior resultado de todos. Os
maiores incentivos levaram ao pior desempenho.
O que é interessante nisso é que
os resultados não são anômalos. Isso foi reproduzido várias e várias vezes por
psicólogos, sociólogos e economistas, continuadamente. Para tarefas simples, a
ideia de que se você fizer isto vai ganhar tanto funciona muito bem.
Para tarefas algorítmicas, encadeadas, como seguir um conjunto de regras que
conduz à resposta certa, a recompensa da cenoura pendurada na frente do cavalo é
excelente e funciona. Mas quando a tarefa fica mais complexa e requer algo mais
conceitual, um pensamento criativo, esse tipo de incentivo comprovadamente não
funciona.
Fato: dinheiro é um motivador no
trabalho, mas de um jeito estranho. Se você não paga o suficiente para as
pessoas, elas não serão motivadas. O que é curioso nisso é que há outro paradoxo
aqui, no qual o melhor uso para o dinheiro como motivador é pagar às pessoas o
suficiente para que a questão do dinheiro não seja o problema, ou seja: pagar às
pessoas o suficiente para que elas não pensem sobre o dinheiro mas sim sobre o
trabalho.
Então você faz isso e verifica
que há três fatores que, segundo a ciência, levam alguém ao melhor desempenho,
além da satisfação pessoal: autonomia, mestria e propósito. Autonomia é o desejo
de nos autoguiar, dirigir nossa própria vida. Em muitos aspectos, as noções
tradicionais de gestão entram em conflito com isso.
Gestão é ótimo se você quer
manter o controle hierárquico, mas se você quiser engajamento que é o que se
busca na força de trabalho atual, com pessoas fazendo coisas complicadas e
sofisticadas autonomia é melhor. Deixe-me dar alguns exemplos quase radicais
de formas de autonomia em ambientes de trabalho que trazem bons resultados.
Vamos começar por uma companhia
australiana de software, a Atlassian, que faz algo muito legal. Uma vez ao trimestre, em
uma tarde de quinta-feira, eles dizem aos seus desenvolvedores: Nas próximas 24
horas você pode trabalhar em qualquer coisa que quiser. Você pode trabalhar do
jeito que quiser, com quem quiser e tudo o que pedimos é que mostre para a
empresa os resultados disso no final dessas 24 horas, não de um jeito sério e
chato, mas num tipo de reunião divertida, com cerveja, bolo, entretenimento e
outras coisas assim. Aconteceu que um dia inteiro de autonomia não diluída
trouxe uma série de correções para o software da empresa e levou a toda uma
série de ideias para novos produtos que nunca teriam surgido de outra forma, num
dia convencional.
Este não é o tipo de coisa que
eu faria antes de conhecer esse estudo. Eu teria dito: Se você quer que as
pessoas sejam criativas e inovadoras, dê-lhes um maldito bônus de inovação, como
Se você fizer algo legal, vou lhe dar 2500 dólares! Mas a Atlassian
não está fazendo isso. No fundo estão dizendo essencialmente: Vocês
provavelmente querem fazer coisas interessantes. Deixe-me apenas sair do
caminho. E um dia de autonomia produziu coisas que nunca haviam aparecido.
Vamos falar sobre mestria: nosso
desejo de melhorar cada vez mais em alguma coisa. É por isso que as pessoas
tocam instrumentos nos finais de semana. De uma perspectiva econômica,
aparentemente quem faz isso age de forma irracional. Eles tocam instrumentos?
Por quê? Não vão conquistar ninguém com isso e nem conseguir fazer dinheiro.
Mas eles tocam, pois é divertido, porque ficam melhor em algo, e isso é
gratificante.
Fico imaginando voltar no tempo,
para 1983, e encontrar minha primeira professora de economia, uma senhora
chamada Mary Alice Shulman, e dizer a ela: Professora Shulman, posso conversar
com a senhora depois da aula? Ela diz que sim. Eu tenho uma ideia para um
modelo de negócio e quero lhe mostrar. Ele vai funcionar assim: você pega um
monte de pessoas ao redor do mundo que fazem um trabalho altamente qualificado
mas que estão dispostos a trabalhar gratuitamente, doando seu tempo 20, às
vezes 30 horas por semana. Ela fica me olhando com aquela cara de incrédula.
Mas tem mais, ainda não acabei: eles vão criar algo não para vender, mas para
dar de graça. Vai ser grandioso! Ela iria pensar que sou mesmo muito louco.
E apesar disso tudo, o que você
tem hoje? Tem o Linux funcionando nos servidores corporativos das 500 maiores
empresa segundo a Fortune. Você tem o Apache rodando na maioria dos servidores.
Wikipedia!
O que está acontecendo? Por que
as pessoas estão fazendo essas coisas? A maioria delas é altamente qualificada,
tecnicamente sofisticada e está empregada. Eles têm empregos e são pagos para
trabalhar com tecnologias sofisticadas. No entanto, no seu limitado tempo livre,
igualmente fazem e trabalham em coisas tecnicamente sofisticadas, às vezes até
mais. Não para um empregador, mas para outra pessoa, e de graça. Esse é um
comportamento econômico esquisito. Economistas olham para isso e pensam Por que
eles fazem isso? É nitidamente claro: pelo desafio e mestria envolvidos nessas
contribuições. É isso!
O que se pode ver cada vez mais
é a ascensão daquilo que podemos chamar de propósito motivador. Muitas
e muitas organizações buscam um tipo ainda maior de propósito, o propósito
transcendente. Em parte porque isso faz com que as pessoas trabalhem
melhor, em parte porque é uma forma de atrair os melhores talentos. O que
estamos vendo agora é que, quando o incentivo para apenas lucrar não anda junto
de um propósito motivador, coisas ruins começam a acontecer. Às vezes ruins
eticamente, mas acontecem coisas realmente ruins também, péssimas! Como produtos
de baixa qualidade. Serviços toscos. Lugares pouco inspiradores para se
trabalhar. Enquanto o incentivo para lucrar for a coisa mais importante e
estiver distante de propósitos motivadores, as pessoas não farão bons trabalhos.
Mais e mais organizações estão percebendo isso, alterando as noções do que é
lucro e do que é propósito.
Acho que, na verdade, isso
promove algo interessante. As empresas que estão prosperando as lucrativas, as
sem fins lucrativos ou as que estão no meio disso têm o entusiasmo do
propósito motivador. Deixe-me dar alguns exemplos. O fundador do Skype disse:
Nosso objetivo é ser disruptivo na causa de tornar o mundo um lugar melhor.
Ótimo propósito. Este é do Steve Jobs: Eu quero reverberar no Universo. Esse é
o tipo de coisa que, quando alcança você, o faz ir correndo para o trabalho.
Eles são maximizadores de propósitos, não apenas de lucro.
Penso que a ciência nos mostra
que, se dermos importância profunda à mestria, todos vamos querer ter autonomia.
Acho que o grande passo aqui é começarmos a tratar as pessoas como humanos e não
achar que são cavalos lentos, pequenos e cheirando um pouco melhor que equinos
de verdade. Precisamos deixar para trás a ideologia da cenoura pendurada à
frente e olhar para a ciência para construir organizações, trabalhar e viver
melhor.
Isso também nos ajudaria a fazer
do nosso mundo um lugar um pouco melhor.
* Daniel H.
Pink é escritor e consultor motivacional.
O texto acima é baseado na transcrição da palestra do autor e adaptada da legenda do
vídeo Drive: The surprising truth about what motivates
us
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