Os pensamentos comandam a nossa vida. Esta é uma afirmação incontestável. Mas até que ponto nós orientamos deliberadamente e conscientemente os nossos pensamentos? Não é por certo menos verdade, que por vezes, os nossos sentimentos e emoções sobrepõem-se aos nossos pensamentos, e tomam o comando das operações. Então, até que ponto conseguimos regular os sentimentos e emoções, quando estes entram em conflito com os pensamentos?
 
Pretendo esclarecer o leitor com informação que possa ajudar a melhor responder a algumas das questões anteriores. Irei também apresentar alguns passos e estratégias que permitirão entender e lidar de forma mais adequada e clara com os seus pensamentos e sentimentos.
 

DESENVOLVER CONSCIÊNCIA DO DIÁLOGO INTERNO

O seus pensamentos são como que um diálogo interno. Usualmente temos uma média de cerca de seis mil pensamentos por dia, a maioria dos quais costumamos repetir para nós mesmos. Em muitos casos, você aprendeu a ter esses pensamentos a partir de experiências na interação com os seus familiares na infância, e foram repetidos a partir desse momento. Ao longo da vida, as aprendizagens que fazemos seguem o mesmo princípio. Considerando que as habilidades cognitivas não ficam plenamente desenvolvidas até entrarmos na casa dos vinte anos, consegue facilmente imaginar quantos dos pensamentos que construiu até essa data podem não lhe servir mais.
 
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Qual a razão para desenvolver a consciência do seu diálogo interno?

A sua capacidade de escolher como pensa acerca de si mesmo, gira em torno de conseguir autoregular-se, ou escolher a sua resposta a acontecimentos desencadeantes. Expliquei aprofundadamente este assunto no artigo: Autoregulação, para sentir-se melhor foque-se no mais importante.
 
Primeiro, porque ao tornar-se consciente do que diz a si mesmo, permite que você, ao invés das suas emoções, intencionalmente direccione as suas escolhas. A sua felicidade, bem-estar e sucesso dependem disso. No entanto, existe o reverso da medalha, podendo tornar-se crítico, porque os seus pensamentos ativam os processos emocionais dentro de você. Como sabemos as emoções são poderosas, a nosso favor ou contra nós elas libertam uma tremenda energia que conduz na grande maioria das vezes os nossos comportamentos.
 
Então temos de encarar a verdade nua e crua, de que na grande maioria das vezes não temos plena consciência dos nossos pensamentos e consequentemente do nosso diálogo interno. Por vezes ativamos emoções e sentimentos que vão condicionar as nossas escolhas, influenciando a seu belo prazer os nossos comportamentos.
A saber: Os seus pensamentos, e as crenças que os suportam, accionam automaticamente as emoções.
Ainda que os acontecimentos e ações de algumas pessoas possam provocar em nós reações e sentimentos desagradáveis, elas não os causam. O que verdadeiramente está na causa daquilo que sentimos e fazemos é o que dizemos a nós mesmos. E, a maioria do que dizemos a nós mesmos acontece subconscientemente. Isto decorre das crenças que mantemos num determinado momento, as quais orientam inconscientemente o nosso diálogo interno e consequentes comportamentos. No fundo, é como se deixássemos de ouvir os nossos próprios diálogos e nem sequer tomássemos consciência dos nossos pensamentos, que por sua vez alimentam as nossas emoções, e vice-versa, por vezes num ciclo automático. Como se estivéssemos a ser aquilo que somos, sem consciência alargada do que estamos a ser, impedido que possamos mudar alguns dos nossos comportamentos. Expliquei aprofundadamente este assunto nos artigos: Cuidado com as suas palavras, 8 formas de otimizar o seu diálogo interno e Abandone a negatividade, acabe com o diálogo auto-crítico.
A saber: Quando você, ao invés das suas emoções, fica no comando do que pensa, fica igualmente no comando dos seus comportamentos, e assim consegue influenciar deliberadamente os acontecimentos na sua vida. Desenvolver o autoconhecimento é o primeiro passo para transformar os seus pensamentos.

Segundo, para entender o poder das suas emoções. As emoções são uma tremenda energia em movimento, fornecem-nos motivo para a ação, influenciando aquilo que pensamos e a forma como pensamos. Neste sentido, as suas emoções são os seus “sinais de ação” ou “indicadores“. Tal como uma bússola, os seus sentimentos fornecem-lhe informação (subtil) relativamente aos seus acontecimentos de vida. Você é informado se as coisas que estão a acontecer estão ou não de acordo com os seus objetivos, ou visão! O seu sucesso na superação de problemas está diretamente relacionado à sua capacidade de experienciar uma alargada gama de emoções, e estas, por sua vez informam-no momento a momento se a sua decisão lhe serve ou não.
Para aprofundar o assunto, leia: Aumente o seu sucesso entendendo as suas emoções.

APRENDER A LER AS SUAS EMOÇÕES DESAGRADÁVEIS

As emoções agradáveis ou que o fazem “sentir-se bem“, como por exemplo, a alegria, confiança, felicidade, dizem-lhe que as suas necessidades ou impulsos internos estão a ser satisfeitos, no entanto, esses sentimentos podem ser enganosos. Nem todas as coisas que criam sentimentos felizes são saudáveis e benéficos, como por exemplo, alimentos viciantes, substâncias aditivas ou atividades perniciosas.
 
No caso de algumas emoções desagradáveis, elas são sentidas através de sinais ou sintomas que na grande maioria das vezes identificamos como stress, angústia, nó na garganta, borboletas no estômago, tensão muscular, agitação motora, sudação, batimento cardíaco acelerado, entre outros. Muitos dos acontecimentos que causam stress, como por exemplo, lidar com uma questão importante ou fazer um exame, são emocionalmente, mentalmente e fisicamente saudáveis. Toda a ativação fisiológica (por vezes interpretada como desagradável) ajudam-no a aprender, crescer, realizar, desempenhar, criar e fazer coisas extraordinárias!
 
É especialmente vital, portanto, aprender a conectar-se e a levar em consideração algumas das suas emoções que considera dolorosas, desagradáveis ou que o fazem “sentir-se mal“, tais como raiva, culpa, vergonha, dor e ansiedade. Elas fornecem uma grande quantidade de informações essenciais que as emoções agradáveis não lhe dão. Servem-lhe como “sinais de ação” ou “indicadores“, indicando-lhe onde você está relativamente ao que quer, aspira ou deseja ser. Tal como as emoções baseadas no medo, grande parte das outras emoções negativas (desagradáveis) permitem que você entenda que possíveis ações e mudanças melhor apoiariam os seus objetivos ou visão. Expliquei aprofundadamente este assunto no artigo: Descubra o poder dos sentimentos negativos.

Apresento sete passos para desenvolver a consciência dos seus sentimentos e a respetiva conexão com os seus pensamentos:

PASSO 1: SELECIONE UMA SITUAÇÃO DESENCADEANTE


Faça uma lista de acontecimentos que provocam sentimentos perturbadores, desesperança ou raiva em você. Em seguida, selecione o menos desafiador ou perturbador para iniciar o processo de exposição e aprender a lidar com esses pensamentos e sentimentos. Estabeleça uma hierarquia (do menos perturbador para o mais perturbador). Pouco a pouco, com a prática, uma de cada vez, você pode ir enfrentado as situações mais exigentes, vai trabalhando o seu caminho gradualmente até chegar aos mais desafiadores. Isso pode levar dias ou semanas, e requer paciência.
 
Durante o processo é importante saber que é necessário propor-se a sair da sua zona de conforto, enfrentado situações/pensamento/sentimentos que lhe causam incómodo e angústia, mas também não deverá expor-se demasiado e ficar esmagado pelo processo. Em qualquer momento, ao estar a lidar com os pensamentos e sentimentos perturbadores, se isso se tornar emocionalmente demasiado intenso, sentido-se a perder o controle da situação ao ponto de diminuir o seu bem-estar psicológico, deve parar o processo. Neste caso, você deve ponderar procurar ajuda profissional de um psicólogo.

PASSO 2: FOCALIZE-SE NO PRESENTE ATRAVÉS DA RESPIRAÇÃO


Depois de selecionar o gatilho (situação/pensamento/sentimento) sobre o qual pretende refletir, é importante que mantenha a tranquilidade e esteja mentalmente disponível para avaliar-se. O processo que permite colocar-se nesse estado é a respiração. Faça uma pausa por um momento, faça 3 a 5 respirações lentas e profundas (respiração diafragmática/barriga), e permita-se relaxar. Focalize-se na sua respiração, com os olhos fechados, faça um scanner ao seu corpo a partir do topo da sua cabeça até à ponta dos seus dedos dos pés, observando e libertando alguma tensão ou firmeza que possa estar a sentir.
 
Imagine-se num lugar seguro e aprazível. Lembre-se que você não é as suas emoções ou pensamentos. Você é aquele que pensa e sente, é o observador, é o criador das suas escolhas, emoções e pensamentos. Tente interiorizar este conceito, diga a si mesmo que esta é uma boa notícia. Isso significa que você pode aprender a estar no comando das suas respostas, e ninguém pode “fazer-lhe” sentir-se de uma certa maneira sem a sua permissão. Você é o observador das suas emoções. Você é aquele que pode analisar e avaliar se as emoções que está a sentir lhe servem relativamente ao que está a acontecer na sua vida.
 
Leve em consideração que todas as emoções que você experiencia estão relacionados com a forma como olha o mundo e estabelecem um forte relação com as suas experiências passadas. Num mundo em constante evolução e mudança, por vezes as nossas “velhas” estratégias emocionais ficam desatualizadas, não nos servem mais, prejudicando-nos. No entanto, as emoções e os pensamentos automáticos associados devem ser levados em consideração, mas sempre tendo a consciência de avaliar se para a situação presente estão a ser um bom orientador ou se precisam de ser “orientadas” por aquele que as sente, e por aquele que pode criar outros pensamentos, você mesmo.
 
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PASSO 3: IDENTIFICAR E SENTIR AS SUAS EMOÇÕES E SENTIMENTOS


Sentindo-se relaxado e centrado na sua respiração, focalize-se no gatilho selecionado, talvez recordando a sua ocorrência mais recente. Sem julgar, faça uma pausa para tomar consciência dos seus sentimentos e sensações corporais. Observe todas as emoções e sentimentos que você sente dentro de si, à medida que vai respirando de forma lenta e profunda. Pergunte a si mesmo, “O que estou sentindo agora?”
Por exemplo, se você sentir raiva, perceba que outras emoções podem estar associadas. A raiva é sempre uma emoção secundária que entra em cena para protegê-lo de sentir outras emoções como a vulnerabilidade, vergonha, ou o medo. Pergunte a si mesmo “O que sustenta esta raiva?”
Que sentimentos e emoções você sente? Anote-os numa folha de papel.

PASSO 4: SENTIR E PERCEBER A LOCALIZAÇÃO DE TODAS AS SENSAÇÕES NO SEU CORPO


As emoções que sentimos têm a sua expressão no corpo. É importante ganharmos o hábito de percebermos em que parte do corpo as nossas emoções se manifestam. Focalize-se durante alguns segundos nas suas emoções de momento, e observe em que parte do seu corpo sente as sensações físicas. Para cada uma das emoções despertadas, pergunte a si mesmo, que sensações você sente no seu corpo quando imagina a situação ou se foca no pensamento desencadeador? Observe a localização dessas sensações físicas. Com a sua atenção fixa nessas sensações, respire profundamente, e coloque delicadamente uma ou ambas as mãos no sítio do corpo onde a sensação se faz sentir. À medida que esse processo se desenrola, conscientemente deixe ir qualquer impulso que possa estar a fazer com que fixe, corrija, pare, reprima ou julgue qualquer das suas emoções e sensações. Continuar a sondar o seu corpo, percebendo que as sensações podem diminuir em intensidade. Se a raiva, ou outra emoção primária que esteja a sentir permanecer, continue perguntando: “O que mais estou sentindo?
 
Abordei o assunto da vantagem de lermos as sensações físicas que as nossas emoções têm no nosso corpo, no artigo: Honestidade emocional, uma mais valia para si e seus relacionamentos. Quando interpretamos as nossas emoções de forma limitativa e subtil numa ou duas palavras, como por exemplo, sinto raiva, tristeza, felicidade e assim por diante, corremos o risco de fazer avaliações obtusas e que nos remetem para padrões de pensamentos cristalizados.
É mais funcional descrever a forma como essas mesmas emoções são sentidas no corpo.