8 formas para ultrapassar o
seu passado e seguir em frente com a sua vida
Apesar do fato de todos nós sabermos que a
vida nunca nos deu uma garantia de que seríamos tratados de forma justa e que
as coisas ruins não acontecem para nós, por vezes somos tomados de surpresa
quando levamos um golpe que achamos não merecer. Ficamos presos no passado e
paralisamos a nossa vida. Por mais que se tente seguir em frente depois de um
revés, muitas vezes os golpes sofridos no passado tornam-se numa tormenta ao
bem-estar no presente. Dar um impulso na vida, sair dos acontecimentos de
arrependimento e dos “deverias” pode assemelhar-se ao que os navegadores
portugueses tinham de enfrentar quando atravessavam o cabo das tormentas.
Talvez o mais trágico, no entanto, sejam os sentimentos negativos que as decepções
de ontem, as perdas e fracassos foram criando, edificando uma base de mágoa e
infortúnio para o resto da vida, levando a que a pessoa perca a esperança e
firme a ideia de que é tarde de mais para mudar
a sua vida para melhor.
“A minha mãe sempre disse que você tem que colocar o passado
para trás antes que possa seguir em frente.” – Forrest Gump
Forrest Gump, no filme
parecia ter aprendido uma lição que muitas pessoas mais inteligentes e
esclarecidas não assimilaram. Certamente muitas são as coisas que nos podem
acontecer e que nos obrigam a termos que superá-las. Há situações óbvias que
nos acontecem na vida que podemos considerar traumas devastadores, como
acidentes incapacitantes, doenças graves, perda pessoal, conflitos familiares,
demissões de emprego, fracasso e rompimentos de relacionamento dolorosos, para
citar alguns.
PERCEBA,
ACEITE E SUPERE O SEU PASSADO
No entanto, muitos
distúrbios ao nosso equilíbrio
emocional não são visíveis a olho nu. Mágoas e cicatrizes invisíveis
oriundas de decepções acerca de nós mesmos e dos outros podem levar a
questionarmos as escolhas passadas, fazendo questões como: “porquê”, “Porque
não”, “Porque é que eu não”, e “Se pelo menos.” Apesar do fato de percebermos
que nada pode mudar o passado (os acontecimentos vividos), parece às vezes
quase impossível “ultrapassar” esses sentimentos dolorosos de oportunidades
perdidas, chances falhadas, escolhas ruins, amizades e relacionamentos
quebrados e irrecuperáveis. O profundo sentimento de perda e desilusões,
promovem a dúvida acerca de se conseguimos realmente superar isso. Eu acredito
que sim. Muitas pessoas têm conseguido ultrapassar as angústias do passado.
No entanto, apesar de não
ser possível mudar e/ou apagar os acontecimentos dolorosos vividos no passado,
é possível reinterpretar a dor e a perda de forma a libertarmo-nos da mágoa
paralisante. Aprofundei este assunto no artigo: Como dar um novo significado aos acontecimentos passados.
Apesar de não podermos alterar o que aconteceu, como expliquei, é possível reinterpretar
esses acontecimentos de forma a que possamos aceitá-los, percebê-los e
superá-los. Ao entrar neste processo de superação de situações consideradas
traumáticas ou angustiantes, deixa de ser refém do seu passado menos bem
conseguido.
A seguir apresento oito passos que podem
promover a superação dos acontecimentos passados:
1.
Perceba que existem algumas coisas que você realmente nunca conseguirá “passar
por cima”, mas certamente pode conseguir superar.
Há alguns acontecimentos
que alteram tanto a nossa vida, que realmente nunca poderemos apagá-los da
nossa memória ou fazermos de conta que não existiram. A perda significativa ou
o coração partido por acontecimentos, como a morte de uma criança, um trauma
grave, uma doença fatal, acidentes que mudam radicalmente a vida em que você ou
um ente querido fica permanentemente inválido ou desfigurado, são apenas alguns
exemplos. Quanto mais trágico for o prejuízo ou perda, mais somos desafiados a
erguer-nos acima dos acontecimentos. Quanto mais somos pressionados ao
crescimento pós-traumático, mais precisamos procurar apoio e ajuda para
continuar. Aqueles que estão decididos a aceitar o sucedido e a abrir os seus
corações para tentar novamente, voltar a amar, a confiar de novo, irão superar
o trauma muito melhor do que aqueles que caem numa espiral de negatividade,
isolamento e amargura. Podemos não ter a capacidade de mudar os acontecimentos
do passado, mas podemos escolher como vamos lidar com isso, para que possamos,
pelo menos, levar a vida de uma forma que ainda ofereça esperança e alegria
(ainda que possa ser muito diferente daquilo que era).
2.
As coisas que você não tem conseguido “superar” são avisos, precisam da sua
atenção redobrada.
Imagine a luz de aviso de
combustível no seu carro. O sinal de aviso que você está ficando com pouco
combustível, é um sinal protetor, é um sinal que chama a sua atenção no sentido
de lembrá-lo para atestar o depósito, evitando que possa vir a passar por um
incómodo. Da mesma forma, algumas das coisas nas nossas vidas que não
conseguimos “superar” transmitem-nos uma mensagem de que existem assuntos que
necessitam da nossa atenção, no sentido de termos de fazer algo, aprender algo,
ou lidar com algo. No fundo, os sentimentos negativos oriundos dos
acontecimentos passados, fazem-nos sentir sensações desagradáveis para que
possamos perceber que temos de fazer alguma coisa para voltarmos a ficar bem e
a sentirmo-nos bem. Para aprofundar o assunto, leia: 7 Passos para entender os seus pensamentos e sentimentos
negativos.
3. Mais de
oitenta por cento da nossa vida não é determinada por eventos, mas pela nossa
reação a eles.
Em vez de concentrar-se no
que não pode ser alterado, concentre-se no que pode ser alterado. Na maioria
dos casos, os acontecimentos ou as outras pessoas não nos levam a sentir de uma
certa maneira. Nós é que fazemos isso. Nós é que decidimos manter-nos num
sentimento incapacitante. Claro, que dado a natureza de alguns acontecimentos
de vida, temos toda a legitimidade para nos sentirmos mal. No entanto, esses sentimentos
negativos não invalidam que possamos fazer algo para superar os
acontecimentos e promover melhores sentimentos. Assumir a responsabilidade
pelos seus próprios pensamentos e sentimentos, sair de uma mentalidade
de vítima, irá capacitá-lo para ultrapassar os arrependimentos
passados, derrotas, decepções, desgostos e traumas, em vez de usar isso como
uma carga insuportável de transportar.
Muitas vezes não podemos
“superar” algo por causa de histórias que contamos a nós mesmos, que não são
baseadas em fatos. Mas sim na interpretação que fazemos do que nos aconteceu.
E, em alguns acontecimentos podemos distorcer a magnitude e impacto real do
sucedido. Por exemplo, algumas pessoas que perdem um emprego ficam
desapontadas, mas ainda têm a confiança para seguir em frente sabendo que pode
haver melhores oportunidades. Em contrapartida, outros não seriam capazes de
“superar” o trauma da rejeição e rotular-se-iam como perdedores e fracassados.
As pessoas quando atravessam uma crise, muitas vezes criam histórias sobre si
próprios personalizando a crueldade da vida como algo que reflecte a sua
autoestima, resultante de antigos hábitos enraizados de pensamentos de julgamento
depreciativo. O diálogo
interno autocrítico de cariz negativo torna-se tão sedimentado, que
muitas vezes não percebemos que temos o poder de mudá-lo. Para aprofundar o
assunto, leia: Mude a sua história, se está insatisfeito, faça algo de
diferente.
5.
Dê a si mesmo permissão para sofrer o que “poderia ter sido” ou “o que poderia
ter obtido”
Em alguns casos, não se
pode esperar “superar” algo de forma rápida se não se passar pelo processo de
luto. O luto, não é um processo com o qual apenas lidamos quando enfrentamos a
morte ou a perda de um ente querido. Existem perdas menos visíveis e concretas,
tais como a percepção de que você não pode ter a vida que pensou que seria
possível, que o seu entusiasmo relativamente a um determinado objetivo de vida
não o conduziu a bom porto, dando lugar à decepção. Na grande maioria das
situações, do mais terrível sofrimento a uma perda comum, o processo de luto é
essencial para o processo de cicatrização. Às vezes precisamos passar por fases
de raiva e amargura, a fim de sermos capazes de passar à fase de aceitação.
Para aprofundar o assunto, leia: Como
lidar com a decepção?
6.
Procure apoio
Não vivemos isolados dos
outros. O contato, o afeto e a troca de experiências permite-nos crescer e
desenvolvermo-nos. As pessoas crescem melhor promovendo bons relacionamentos e
procurando apoio. Perante o sofrimento, se nos afastarmos dos outros por nos
sentirmos diferentes ou para nos protegermos, o que daí pode imergir é mais
sofrimento e reviver o trauma ou a situação angustiante uma e outra vez na
nossa mente. É mais saudável e promotor da recuperação procurar apoio para
aliviar o seu sentimento de perda. Relacionamentos saudáveis e de apoio podem
ajudar a curar feridas. Mesmo que os outros não possam resolver o seu trauma ou
problema, eles podem ajudá-lo a chorar a perda ou a decepção e
reconfortá-lo.
7. Saiba que
não existe “voltar ao passado”, mas há “segundas chances”
Lembre-se que na grande
maioria das situações não é tarde demais para “começar de novo. Se você
entendeu o que anteriormente descrevi, que você não pode “passar por cima”, e
começar a partir de hoje a tomar decisões saudáveis com base no que você
aprendeu neste artigo, vai realmente conseguir novas soluções para velhas
questões. Mudar alguns comportamentos para passar a lidar com as coisas infelizes
ou evitar que ocorram novamente irá capacitá-lo. Ser proativo ao invés de
reativo, e fazer alterações com base nas suas lições de vida, pode curar mágoas do
passado. Para aprofundar o assunto, leia: 4 Obstáculos à mudança de vida positiva.
8. Aceite os
acontecimentos e tenha compaixão por si mesmo
Perante acontecimentos que
nos deixam presos ao passado, a capacidade de aceitá-los e de termos compaixão
por nós mesmos são dois passos extremamente decisivos para ultrapassar o
sofrimento. Não estou a falar da aceitação passiva, da aceitação displicente,
em que tudo acontece e nada se faz. Não é isso. Refiro-me à aceitação da
realidade tal qual ela aconteceu, em que não há retorno possível, em que não é
possível apagar o que sucedeu. Perante este tipo de cenário, aceitar é o melhor
remédio. Permite-nos encarar a realidade de frente, sermos compassivos connosco
mesmos e a partir daí cultivar a esperança num futuro melhor. Ficar contra
tudo, contra todos e até contra você mesmo, certamente não irá beneficiá-lo em
nada. Cria rancor, ressentimento, indignação, desesperança, ódio, entre outros sentimentos
negativos. Num estado de negatividade, mesmo aquilo que ainda temos
de bom na vida fica afetado, deixamos de olhar para o que ainda faz sentido na
vida. Aceite, tenha compaixão e siga em frente.
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