quinta-feira, 18 de junho de 2020




UMA REFLEXÂO SOBRE AS VIRTUDES

No Tempo da Delicadeza - Jardim Design

O interesse pessoal é contrário à prática da virtude, considerando que ele está centrado no egocentrismo. Egocetrismo “é a qualidade da personalidade humana que remete ao indivíduo que prioriza a si (seus desejos, pensamentos e necessidades) diante da realidade, tornando-se imersos em uma fantasia apropriada a esse padrão de aceitação e não enxergando a realidade da vida social e das necessidades de outros indivíduos em relação às suas” (wikipedia).
Para ter o poder do discernimento, é necessário agir com cautela e sabedoria, não permitindo dominar-se por emoções descontroladas e impulsivas; analisar criteriosamente os fatos e circunstâncias à luz da razão e sempre avaliar quanto às consequências da utilização do livre arbítrio. O bom hábito da reflexão evitaria situações que voluntariamente nos permitimos enveredar e que podem trazer consequências desastrosas em decorrência da própria falta de discernimento. No nosso cotidiano, temos a oportunidade de colocar em teste a nossa capacidade ou incapacidade de discernir quanto ao melhor caminho a seguir, as decisões que deveremos tomar e que podem afetar direta ou indiretamente o nosso semelhante. Fazer ao próximo o que gostaríamos que o próximo nos fizesse constitui uma boa regra que se fosse devidamente observada, evitaria sofrimentos decorrentes da má utilização do livre arbítrio.

- O amadurecimento espiritual é decorrente do esforço contínuo do ser em busca do seu próprio equilíbrio, não desconsiderando que o somatório das experiências vicenciadas aliado ao conhecimento que se adquire contribue diretamente na conquista desta maturidade tão almejada.

- O dever é a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo, em seguida para com os outros. O dever íntimo é governado pelo seu livre-arbítrio. “O dever começa no ponto onde ameaçais a felicidade ou a tranquilidade de vosso próximo e termina no limite em que não desejaríeis vê-lo transporte em relação a vós”.

É possível que o ser realize a sua transcendência, permitindo-se mergulhar no processo do auto-conhecimento sem medos impeditórios de realizar essa experiência intransferível, identificando em si próprio sentimentos armazenados indevidamente ao longo dos anos que interferem diretamente no seu presente atual. Esse processo deverá ser gradual e sistemático, descortinando-se diante de si mesmo.
Ao entrar em contato com os seus sentimentos mais íntimos, analisando-os detalhadamente, verificar-se-á quanto trabalho terá a realizar para remover de si sentimentos de conotação perturbadora que interditam o seu processo de libertação espiritual. É preciso seguir etapas neste aprendizado contínuo e sistemático descobrindo-se gradualmente, à medida que o encontro consigo lhe habilite a realizar o auto-diagnóstico e a necessária transformação interior.

O ser está destinado a conquistar virtudes gradualmente, à medida que substitua pela força de vontade e perseverança, sentimentos e pensamentos negativos por sentimentos, pensamentos e ações de brandura, mansuetude, ternura, carinho, compaixão, perdoando-se intimamente pelos erros cometidos e fortalecendo-se para o enfrentamento das provas que a vida lhe oportunizar. A aquisição de uma única virtude justifica todos os esforços de uma existência inteira, motivo pelo qual o poder do pensamento deverá direcionar a energia mental neste sentido. Brilhe a vossa luz é o resultado de todos os esforços que realizamos no sentido da ascensão do ser espiritual.

- A virtude possui luz própria e não há como não reconhecê-la quando temos oportunidades de conviver com pessoas virtuosas. Ela exerce uma força de atração poderosíssima, tornando-se uma fonte de água cristalina para aqueles que a procurarem. É o poder do amor transformando as criaturas nessa arte de amar ao próximo como a si mesmo. Lições inesquecíveis aprendidas nas relações interpessoais e que deixam marcas registradas neste longo aprendizado.

É preciso estar atento aos seus próprios sentimentos, emoções, pensamentos e ações, sempre analisando-os com a abertura de mente necessária. O medo poderá ser um forte obstáculo neste processo de auto-conhecimento, motivo pelo qual não se deve temer encontrar a sua própria verdade.
Pela repetição sistemática de atitudes virtuosas, adquire-se o hábito de fazer o bem, tornando-se essa prática uma rotina natural e espontânea, sem que seja necessário nenhum esforço em realizá-la, motivo pelo qual é extremamente necessário estudar essas virtudes e como elas se manifestam no nosso cotidiano.

Enumeraremos a seguir resumidamente algumas virtudes e suas características:

Humildade:
“Virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza” (dicionário Aurélio). Humilde é ser despretensioso, resignado, moderado, sóbrio, comedido, flexível e simples. Não necessita alardear suas virtudes conquistadas e não se enaltece diante do próximo, reconhecendo em si mesmo a necessidade de permanente evolução espiritual.


Resignação
A certeza de que somos amparados espiritualmente e que nada nos acontece por um acaso nos habilita na necessária resignação diante dos desígnios de Deus, compreendendo que a transitoriedade do sofrimento resultará em aprendizado e experiências a serem conquistadas. Aquele que é resignado jamais se revolta, ao contrário, canaliza as suas energias para enfrentar da melhor maneira possível as vicissitudes da vida, motivo pelo qual transforma a dor em oportunidade evolutiva.


Sensatez
O indivíduo sensato é aquele que age com cautela e sabedoria. A sabedoria é decorrente do conhecimento das verdades espirituais e essa compreensão permite-lhe ter uma visão mais ampla sobre os acontecimentos e condutas alheias. Evita julgar, comentar e condenar o seu semelhante, considerando que também é passível de cometer erros. Reflete antes de agir e não se permite ser instrumento da discórdia, da maledicência e desunião no seu convívio social. È disciplinado no uso da palavra, por compreender que ela deve ser utilizada com um fim útil, difundindo esperança e consolo aos que lhe convivem o cotidiano.


Piedade
A sensibilidade perante o sofrimento alheio nos irmana ao próximo, podendo se refletir com maior ou menor intensidade nos nossos sentimentos e emoções. Essa compaixão ou comiseração nos possibilita sair da passividade e soerguer aqueles que em estágios mais profundos de sofrimentos virem ao nosso encontro. A piedade é sempre atuante, nunca passiva, é essa força que lhe impulsiona ir ao encontro do próximo quando ele lhe suplica o tesouro precioso do seu tempo, por isso ela nos aproxima das almas aprimoradas, sendo a irmã da caridade que nos conduzirá a Deus.


Generosidade
A generosidade é característica dos que compreenderam a importância do exercício da caridade nos seus aspectos mais amplos. “É a qualidade ou caráter de generoso, que gosta de dar, pródigo. Que perdoa com facilidade. Nobre, leal, valente “(dicionário Aurélio). Quem é generoso, age com bondade e espontaneidade, não lhe sendo sacrifício doar-se. Não observa o desdém ou atitude irônica do próximo e sabe silenciar diante de uma ofensa, não se enaltece diante de suas atitudes generosas, ao contrário, silencia diante de um elogio.


Afabilidade/doçura
“Afabilidade significa qualidade ou maneiras de quem é afável; inhaneza de trato; delicadeza, cortesia” (dicionário Aurélio). Para ser afável, é necessário ser dedicado, benévolo, bondoso, ter doçura, meiguice e ternura. Essas virtudes são transmitidas através do olhar brando e terno, compreendendo os conflitos conscienciais e quando necessário, silenciando diante de possíveis ofensas do seu próximo. Gestos de delicadeza e atenção são imprescindíveis àqueles que desejam verdadeiramente conquistar essas virtudes.

Compreensão/Tolerância
“Compreensão. Ato ou efeito de compreender. Faculdade de perceber; percepção” (dicionário Aurélio). Na compreensão, aceitamos a forma de ser das pessoas, nas suas contradições e reações comportamentais, procurando entender as atitudes, sem querer modificar-lhes os pontos de vista; evitamos fazer comentários indevidos sobre quaisquer pessoas, ouvindo serenamente as narrações daqueles que nos confiem seus problemas, sem julgamentos ou condenações. A tolerância é decorrência da compreensão, sendo “tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um indivíduo ou de grupos de determinados” (dicionário Aurélio).

Perdão
Quantos sofrimentos não poderiam ser evitados com o perdão? Quem de nós não necessitará do perdão? O que justifica tamanha inflexibilidade em relação aos erros alheios? Perdoar aqueles que nos abandonaram ou nos traíram a confiança é uma necessidade para nos libertarmos da mágoa que nos aprisiona a alma. O ressentimento corrói os mais belos ideais, aprisionando-nos no sentimento da indiferença e menosprezo e na mente conflituosa àqueles que nos feriram, muitas vezes de forma não consciente. Reconciliar-se com o teu próximo enquanto estiveres a caminho com ele é uma condição para o próprio processo de libertação.

Companheirismo
“Procedimento ou convívio cordial, afetuoso, próprio de companheirismo; camaradagem, coleguismo’ (dicionário Aurélio). A competição e disputa de pontos de vista interdita a vivência do companheirismo nas relações interpessoais, impossibilitando relações fraternais entre pessoas que não necessariamente pensam, sentem, agem da mesma forma ou comungam dos mesmos ideais (políticos, religiosos e sociais). Nas diferenças de opiniões e atitudes comportamentais há grande probabilidade de conflitos, em decorrência da falta de flexibilidade e companheirismo. Nunca a humanidade necessitou tanto de companheirismo como na atualidade, na qual os seres
vivenciam uma profunda solidão, embora estejam no meio das multidões. Estabelecer elos de companheirismo e fraternidade requer no mínimo abertura de mente e aceitação do próximo como membro integrante desta grande aldeia global que se chama o planeta Terra. Todos estamos conectados uns aos outros em níveis diferenciados de energia de conformidade com a qualidade dos pensamentos e sentimentos que emitimos. Podemos impactar o outro positivamente ou negativamente, considerando-se o nosso estado vibratório mental.

Indulgência
“Qualidade de indulgente. Clemência, misericórdia. Tolerância, benevolência” (dicionário Aurélio). Um olhar brando e compreensivo revela o nível de indulgência de um ser perante outro ser e tem o poder de acalmar e consolar, pacificando um coração aflito. Aqueles que já passaram por duras provas sabem a extensão das dores que vivenciaram em si mesmos decorrentes da falta de compreensão e indulgência por parte daqueles que mais esperavam compreensão. Palavras inflexíveis, julgamentos e condenações que lhe deixaram marcas profundas, quando necessitavam apenas da compreensão e do silêncio acalentador. O silêncio na medida certa e a palavra no momento exato pode realizar prodígios, mas para tanto é necessário sabedoria para entender a extensão dos conflitos individuais.

Todos nós estamos em processo evolutivo, aprendendo com as próprias escolhas e lições vivenciadas no convívio social. Somos alunos desta grande escola que se chama Planeta Terra. Neste aprendizado contínuo, sempre aprenderemos as lições que nos são imprescindíveis para o nosso processo de transformação interior. Não há uma lágrima que não possa se converter em consolo, nenhuma dor que não se transforme em aprendizado, um gesto de amor que não possa remover montanhas, afinal fazemos parte da grande família universal. Almas que comungam dos ideais de fraternidade, mãos que se estendem para consolar e mitigar a fome infinita de amor são conclamadas a se unirem neste esforço de fazer com que o nosso Planeta se torne um oásis para os que tem fome e sede de justiça, para os bem aventurados e pacíficos de coração. A grande transformação deverá começar no íntimo de cada um, nos pequenos gestos que passam desapercebidos. É o testemunho que precisamos dar na qualidade dos instrumentos do amor.

Karla Júlia Marcelino

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