24/03/2015 - Últimas Notícias
O NE quer entrar na conversa
Governadores do Nordeste têm encontro com Dilma e buscam
evitar que as necessidades da Região sejam contaminadas pela agenda negativa que
monopoliza o ambiente político do país
Se você quiser
dar uma manchete sobre o Brasil que não fale de crise, para onde olha? Não quero
puxar brasa para minha sardinha não, mas a resposta é óbvia: para o Nordeste. A
revista IstoÉ Dinheiro (que é de São Paulo) percebeu isso e na sua edição que
está nas bancas, a manchete é Os leões do Nordeste, com fotos de cinco grandes
empresários da região (um com atividade-sede no Ceará, outro no Maranhão e três
em Pernambuco) e os dizeres: A região que mais cresce no Brasil virou um
celeiro de empresas gigantes e bem-sucedidas. Apesar da crise econômica,
continua atraindo investimentos bilionários. Escrevi sobre isso aqui no Em
Foco, em textos de 19 de fevereiro (Nem tudo é crise) e 21 de fevereiro
passados (Por uma agenda regional), mas é sempre bom quando outros entoam a
mesma cantoria.
Não é que o
Nordeste esteja imune à crise do país, ou que aqui estejamos vivendo em um
paraíso. Mas temos uma realidade diferente e é um erro se nós, aqui no próprio
Nordeste, ficarmos entregues a uma agenda negativa como se ela fosse a única
existente, abrindo brechas que podem vulnerabilizar - ou mesmo levar ao fracasso
- importantes conquistas obtidas na última década. Uma boa notícia que se pode
tirar daí é que os governadores da Região estão cientes disso. Está marcada para
amanhã uma audiência deles com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília. Pelas
articulações que têm desenvolvido até agora, dá pra dizer que não vão apenas
para comer o tradicional pão de queijo do Palácio; já construíram suas
reivindicações em um encontro realizado em 9 de dezembro do ano passado, quando
como governadores eleitos recriaram o fórum de governadores. Daquele encontro
saiu uma Carta da Paraíba, que defendia em seu parágrafo
inicial:
Renovar o
compromisso de buscar políticas sociais que distribuam renda e estabeleçam
mobilidade social ascendente para milhões de pessoas, produzindo dignidade.
Vamos trabalhar pela melhoria dos indicadores sociais e econômicos da Região, na
busca pela redução das desigualdades existentes. Na construção dessa agenda
positiva e convergente a todos os estados do Nordeste, algumas questões se
sobressaem e precisam ser vistas de modo prioritário e urgente pelo governo
federal.
Esse trecho
destaca um ponto que é imprescindível para nós: a redução das desigualdades
(tanto a da pobreza, porque a maioria dos pobres é nordestina, quanto a
desigualdade entre as regiões, hoje apesar de ter um PIB significativo, R$ 104
bilhões, ele representa apenas cerca de 14% do PIB do Brasil). E,
profeticamente, porque a crise ainda não tinha as feições de hoje, fala da
necessidade da construção de uma agenda positiva e convergente a todos os
estados do Nordeste.
É importante que
os governadores do Nordeste tenham um fórum (o que lhes dá unidade em suas
reivindicações) e abram enquanto grupo interlocução com a presidente. Em termos
eleitorais, o Nordeste foi fiel da balança para Dilma nas duas eleições que ela
ganhou, mas no exercício do governo a presidente não tem demonstrado para o
Nordeste a mesma sensibilidade demonstrada por Lula.
Na Carta em João
Pessoa, os governadores expuseram suas necessidades mais urgentes, como a
criação de uma linha de crédito especial, Proinveste Nordeste, para
investimentos em infraestrutura dos estados, nos moldes do Proinveste atualmente
em execução; investimentos na infraestrutura e logística de rodovias, ferrovias,
portos e aeroportos; uma política nacional de segurança; construção de novas
universidades e escolas técnicas e a criação de um novo ciclo de
industrialização, com a manutenção de incentivos fiscais para as empresas
instaladas na região.
A construção de
agendas regionais como parte da agenda nacional é uma forma de evitar que o país
torne-se dependente de uma agenda única (que nesse momento é a da
crise).
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