terça-feira, 31 de março de 2015

Paixão de Cristo – Paixão da Terra

06/04/2012


Para os cristãos a Sexta-feira Santa celebra a Paixão do Filho do Homem. Ele não morreu. Foi morto em consequência de uma prática libertadora dos oprimidos e de uma mensagem que revelava Deus como “Paizinho”(Abba) de infinita bondade e de ilimitada misericórdia que incluía a todos até “os ingratos e maus”. Antes de ser executado na cruz, foi submetido a todo tipo de tortura. Segundo alguns intérpretes sofreu até abuso sexual.
 
Como referem os relatos do Novo Testamento, usando palavras do profeta Isaias, “foi considerado a escória da humanidade, o homem das dores, pessoa da qual se desvia o rosto, desprezível e sem valor, tido como castigado, humilhado e ferido por Deus; mas ele, justo e servo sofredor, se ofereceu livremente para ficar junto aos malfeitores, tomando sobre si crimes e intercedendo por todos nós”.
 
Desceu até o inferno da solidão humana, gritando nos extertores da cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste”? Porque desceu até ao mais profundo, Deus o elevou até ao mais alto. É o significado da ressurreição, não como reanimação de um cadáver, mas como uma revolução na evolução, realizando nele, antecipadamente, todas as potencialidades escondidas no ser humano. Ele irrompeu como criatura nova, mostrando o fim bom de todo o processo evolucionário.
 
Mesmo assim, como dizia Pascal, Cristo continua em sua paixão,agonizando até o fim do mundo, enquanto seus irmãos e suas irmãs, a Terra que o viu nascer, viver e morrer, não forem finalmente resgatados. Já dizia a mística inglesa Juliana de Norwich (1342-1413): “ele sofre com todas as criaturas que sofrem no universo”. Outro contemplativo inglês, William Bowling, do século XVII, concretizava ainda mais afirmando:”Cristo verteu seu sangue tanto para as vacas e os cavalos quanto para nós homens”.
 
Hoje a paixão de Cristo se atualiza na paixão do mundo, nos milhões e milhões de sofredores, vítimas de um tipo de economia que dá mais valor ao vil metal que à dignidade da vida, especialmente da vida humana. O Cristo se encontra crucificado na Terra devastada; suas chagas são as clareiras de florestas abatidas; seu sangue são os rios contaminados.
 
A rede de organizações que acompanham o estado da Terra, a Global Footprint Network, revelou no dia 23 de setembro de 2008, exatamente uma semana após o estouro da crise econômico-financeira que, neste exato dia, se tinham ultrapassado em 30% os limites da Terra. Chamaram-no de The Earth Overshoot Day: o dia da ultrapassagem da Terra. Esta notícia não ganhou nenhum destaque nos meios de comunicação, ao contrário da crise financeira que até hoje ganha a primeira página.
 
Com esta ruptura, a Terra já não tem condições de repor os bens e serviços necessários para a manutenção do sistema-vida. Em outras palavras, a Terra perdeu a sustentabilidade necessária para a nossa subsistência. Por causa disso, milhões e milhões de seres humanos são condenados a morrer antes do tempo e entre 27-100 mil espécies de seres vivos, segundo dados do conhecido biólogo Edward Wilson, estão desaparecendo a cada ano. Este fato inaugura aquilo que alguns cientistas já denunciaram como sendo uma nova era geológica. Foi chamada de antropoceno, na qual o grande meteoro rasante e destruidor da natureza é o ser humano.
 
Com sua voracidade e obsessão de crescer mais e mais para consumir mais e mais está se transformando numa força avassaladora dos ecossistemas e da Terra como um todo. Comparece como o Satã da Terra quando deveria ser seu anjo da guarda.
 
A Avaliação Ecossistêmica do Milênio, organizada pela ONU entre os anos 2001-2005, envolvendo cerca de 1.300 cientistas do mundo inteiro, além de outras 850 personalidades das várias ciências e da política, concluíram que dos 24 serviços ambientais essenciais para a vida (água, ar puro, climas, alimentos, sementes, fibras, energia e outros) 15 deles se encontravam em processo acelerado de degradação. Quer dizer, estamos destruindo as bases físico-químico-ecológicas que sustentam a vida sobre o planeta.
Agora não dispomos mais uma Arca de Noé que salve alguns e deixe perecer os demais. Desta vez, ou nos salvamos todos ou todos corremos o risco de perecer.
Neste contexto vale recordar as sábias palavras do Secretário Geral da ONU Ban Ki Moon, proferidas no dia 22 de fevereiro de 2009 referindo-se à crise econômico-financeira em relação à crise ecológica:”Não podemos deixar que o urgente comprometa o essencial” É urgente encontrar um encaminhamento à crise dos mercados e das finanças, mas é essencial garantir a vitalidade e a integridade da Terra. Sem esta salvaguarda, qualquer outra iniciativa ou projeto perdem sua base de sustentação.
Temos que transformar a paixão da Terra num processo de sua ressurreição na medida em que suspendermos a guerra total que movemos contra ela em todas as frentes. Isso somente se alcançará refazendo o contrato natural que se funda da reciprocidade: a Terra nos dá tudo o que precisamos para viver e nós lhe retribuímos com cuidado, respeito e veneração, pois é nossa grande e generosa Mãe.
Esta é o desafio e a mensagem que cabe assumer na Sexta-feira Santa do presente ano de 2012.
Leonardo Boff é ecoteólogo e da Comissão Central da Carta da Terra.

Passion - Earth Passion

06/04/2012
For Christians the Good Friday celebrates the Passion of the Son of Man. He did not die. He was killed as a result of a liberating practice of the oppressed and a message that reveals God as "Dad" (Abba) of infinite goodness and boundless mercy which included all up "the ungrateful and wicked." Before being executed on the cross, was subjected to all kinds of torture.
According to some interpreters suffered sexual abuse.
As referred to in the New Testament accounts, using words of the prophet Isaiah, "was considered the dregs of humanity, man of sorrows, one of which deviates from the face, contemptible and worthless, considered punished, humiliated and hurt by God;
but he, fair and suffering servant, freely offered to stay with the malefactors, by taking on crimes and interceding for us. "

Descended into hell of human loneliness, screaming in cross extertores: "My God, my God, why have you forsaken me?" Because descended into the deepest, God elevated him to the highest. It is the meaning of the resurrection, not as resuscitation of a corpse, but as a revolution in evolution, making it, in advance, all the hidden potential in humans. He emerged as a new creature, showing the good end of the whole evolutionary process.
Still, as Pascal said, Christ continues his passion, agony until the end of the world, while his brothers and sisters, the earth where he was born, live and die, are not finally rescued. Already said the English mystic Julian of Norwich (1342-1413): "it suffers from all creatures suffering in the universe."
Another contemplative English, William Bowling, the seventeenth century, further concretised saying: "Christ shed his blood for both the cows and horses and for us men."
Today the passion of Christ is actualized in the passion of the world in millions of sufferers, victims of a kind of economy that gives more value to the base metal to the dignity of life, especially human life. Christ is crucified in the devastated earth; His wounds are the gaps of felled forests;
Their blood is contaminated rivers.
The network of organizations that monitor the state of the Earth, the Global Footprint Network, revealed on September 23, 2008, exactly one week after the bursting of the economic and financial crisis, this very day, had exceeded by 30% the limits of the Earth. They called him The Earth Overshoot Day: the day of the Earth overdrive.
This news has not won any highlighted in the media, unlike the financial crisis that today won the first page.
With this break, the Earth no longer is able to replace the goods and services necessary for the maintenance of the life-system. In other words, the earth lost sustainability necessary for our survival. Because of this, millions upon millions of human beings are condemned to die before their time and between 27-100 thousand species of living beings, according to the data known biologist Edward Wilson, are disappearing every year. This fact opens what some scientists have denounced as a new geological era.
Was called anthropocene, in which the great grazing and destructive meteor nature is the human being.
With its greed and obsession to grow more and more to consume more and more is becoming a powerful force of ecosystems and the Earth as a whole.
Appears as Satan on Earth when it should be his guardian angel.
The Millennium Ecosystem Assessment, organized by the UN in the years 2001-2005, involving about 1,300 scientists from around the world, and other 850 personalities from various sciences and politics, concluded that the 24 essential environmental services for life (water, clean air, climate, food, feed, fiber, energy and other) 15 of them were in accelerated degradation process.
I mean, we are destroying the physical-chemical-ecological conditions that sustain life on the planet.
Now unavailable Noah's Ark to save some and let others perish.
This time, or save us all and all are in danger of perishing.
In this context it is worth recalling the wise words of UN Secretary General Ban Ki Moon, issued on February 22, 2009 referring to the economic and financial crisis in relation to the ecological crisis: "We can not allow urgent matters to jeopardize the essential" is urgent need for a referral to the crisis of the markets and finance, but it is essential to ensure the vitality and integrity of the Earth.
Without this safeguard, any initiative or project lose its support base.
We have to transform the Earth passion in a process of resurrection in that suspend total war we move against it on all fronts.
This will only be achieved by remaking the natural contract is based reciprocity: the Earth gives us everything we need to live and we reciprocate it with care, respect and veneration, it is our great and generous Mother.This is the challenge and the message that it is assumer on Good Friday of this year 2012.
Leonardo Boff is ecoteólogo and Earth Charter Central Committee.

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