segunda-feira, 16 de abril de 2018

“Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida?”[2]
A melancolia segundo os Espíritos
                A mim muito impressiona, cada vez que releio uma página, a atualidade das obras fundamentais do Espiritismo. São atuais quanto ao seu conteúdo porque a leitura pode revelar conceitos de uma profundidade filosófica e psicológica que vão ao encontro dos conflitos existenciais de nossos dias, apesar de transcorrido tanto tempo de sua publicação.
                Um exemplo do que me refiro acima está na mensagem “A melancolia”, publicada por Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, no item 25 de seu capítulo quinto. Nessa obra em que o mestre se dedica a apresentar um estudo do Evangelho de Jesus numa leitura mais espiritual do que as religiões tradicionais vinham apresentando, notadamente com a chave do ensino dos Espíritos Superiores, destaca-se essa página psicológica a respeito da qual me proponho meditar aqui.
                O Espírito François de Genéve, em uma página ditada provavelmente em um grupo espírita bordelense, se dedica a caracterizar a melancolia delineando as marcas que deixa na alma, sua causa espiritual e apresenta também estratégias de superação desse sentimento, concitando o seu portador ao uso enérgico da vontade para escapar do estado de prostração que a melancolia deixa naquele que a cultiva.
                Em síntese, o autor espiritual caracteriza a melancolia como um sentimento de tristeza que se apodera do coração levando o indivíduo a identificar a vida com amargor. Em se demorando nessa postura sombria, pode-se cair na apatia, lassidão e profundo abatimento sob o domínio da alma triste. Nessa condição, julgamo-nos por demais infelizes.
                Contudo, o Espírito, autor do texto, não deixa de considerar que a aspiração por liberdade é comum no Espírito reencarnado. As condições existenciais concretas em que vivemos nos fazem desejar, inconscientemente, o gozo da liberdade espiritual – experimentada muitas vezes nas atividades de emancipação da alma –, na ânsia de afastarmo-nos dos problemas que enfrentamos, nada obstante, o fato de que estes não passem de provas e expiações no roteiro do nosso progresso espiritual, como depreendemos na Filosofia Espírita.
As provas consistem nas lutas enfrentadas na vida corporal que são necessárias ao desenvolvimento do Espírito em inteligência e moralidade. Por sua vez, as expiações consistem em experiências mais exigentes nascidas em atitudes tomadas em desacordo com as Divinas Leis. Desse modo, diante da “opressão” dos desafios da vida corpórea nos sentimos abafados em nossas possibilidades e a realidade extrafísica pode parecer mais atrativa por força do que a respeito dela trazemos nos arcanos do inconsciente.
Certamente que uma demorada reflexão acerca de si mesmo permite ao indivíduo perceber que a grande gênese de seus conflitos está no seu planeta interno e ele os conduz em qualquer dimensão da vida, a morte não elimina as dores da alma. Allan Kardec, como pioneiro dos estudos psicológicos a luz da Ciência Espírita pôde registrar, conforme encontramos na obra O Céu e o Inferno, que cada qual vive o estado de felicidade íntima na vida espiritual conforme esse já se apresentava porque ninguém sofre mágica transformação com o fenômeno da desencarnação.
Aliás, ensinam os Espíritos co-autores de O Livro dos Espíritos que “O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.”[3] Todavia, deve ficar evidente que precisamos verificar o nível de tristeza que nos invade, se está relacionada com o constrangimento que o corpo estabelece ao Espírito ou se estamos experimentando um sentimento oriundo de dores morais edificadas por nós, cabendo-nos o trabalho pessoal de superação dessa mazela.
A vontade de liberdade da alma não deve significar desejo de morte, muito pelo contrário, deveria se instituir em um impulso para instigar o ser na busca de saberes, ações e aspirações elevadas em sintonia com o desenvolvimento dos seus próprios potenciais, mobilizando-o ao crescimento e felicidade possível na Terra. Por outro lado, o desejo funesto de morte revela um aprofundamento da tristeza que se configura na patologia identificada como depressão, bem catalogada na medicina cujos recursos terapêuticos o indivíduo, com o apoio de seus familiares, deve buscar.
A depressão, como vemos em interessante artigo da terapeuta transpessoal Iris Sinoti[4], é diferenciada da tristeza normal e pode ser compreendida como um distúrbio de humor que desequilibra o universo emocional da pessoa. Consiste em uma experiência subjetiva muito dolorosa, produtora de um sentimento profundo de perda que degrada a psique do indivíduo. Os processos depressivos estão marcados pela ausência de sentido existencial e alteram o modo com que a pessoa lida com a sua subjetividade e com o mundo. Também, a depressão pode ser encarada como um alerta da alma a fim de endereçar o enfermo para a busca de sentido, o conhecimento de si mesmo e o cultivo do autoamor, estratégias psicológicas necessárias para o encontro saudável consigo mesmo.
 Allan Kardec
O vazio existencial e a ausência de sentido
                No século passado, ao se dedicar a entender a solidão e a ansiedade do homem moderno, o psicólogo americano Rollo May (2011) apontou o vazio existencial como um dos problemas fundamentais da época. Ao se referir à “gente vazia”, ele se ocupa de reflexionar sobre as razões psicossociais desse fenômeno em uma sociedade como a nossa, infelizmente pautada em valores consumistas, onde muitas pessoas são assoladas por aqueles conflitos em razão do descuido para com a própria subjetividade. “O vácuo interior é o resultado acumulado, a longo prazo, da convicção pessoal de ser incapaz de agir como uma entidade, dirigir a própria vida, modificar a atitude das pessoas em relação a si mesmo, ou exercer influência sobre o mundo que nos rodeia”[5] Destaca, ainda com muita propriedade, firmada no cotidiano de sua práxis, que as pessoas que sofrem desse vazio não somente ignoram o que querem, como também, o que sentem. O que equivale a dizer que os vitimados pelo vazio existencial em nossa sociedade desconhecem a si mesmos, experimentando, por consequência, uma vida sem sentido forjada na direção imposta pela coletividade. Para tanto, o grupo social estabelece valores erigidos como metas a serem perseguidas inquestionavelmente que, por sua vez, funcionam como reguladores da vida e do valor do indivíduo, mesmo que as suas consequências éticas sejam pouco lúcidas ante o exame do bom senso.
Rollo May      
         Sobre esse fenômeno psicológico do vazio existencial, é bom ter em conta que, ao desconhecer-se, o indivíduo adere aos valores e normas sociais de um modo que a contrapartida inevitável é a desagregação da própria identidade ante as determinações da “ditadura” das vontades externas à sua. Nesse contexto, a falta de autonomia conduz o indivíduo à necessidade de adaptar-se mais do que autorealizar-se, prática que recalca a criatividade e as potencialidades do ser. A pessoa simplesmente se ajusta de forma pouco reflexiva e nada criativa à sociedade enferma, perde a referência de quem é e passa agir de forma normótica[6], passando viver a patologia normalidade do grupo social.
Um caminho de superação da desidentificação com o self[7] está assinalado em O Livro dos Espíritos, na questão[8] em que os Benfeitores da Humanidade nos convocam, conforme o registro do mestre Allan Kardec, ao conhecimento de nós mesmos mediante a problematização diária de nossa conduta e suas razões. Trata-se de uma viagem necessária à saúde mental tanto quanto ao nosso progresso espiritual. Suponho que o conhecimento de si mesmo consiste em conquista que permite ao Espírito atribuir sentido à atual reencarnação, colocando-a em um nível de vivência autoeducativa e, por esse entendimento, de significado profundo e transcendente. Todavia, o sentido existencial referido aqui deve ser atribuído pelo indivíduo em um exercício permanente de autoconhecimento – não por outrem –, nada obstante a consciência esteja repleta de significados construídos culturamente na vida atual e em outras.
                Ao desenvolver a Logoterapia a partir de suas vivências de prisioneiro em um campo de concentração nazista, Victor E. Frankl[9] também identificou o vazio existencial como um fenômeno do século XX, aliás, que se alonga até o nosso. Segundo esse psiquiatra austríaco, entre as do vazio existencial estariam a perda de alguns dos instintos básicos de nossa ancestralidade ao longo da evolução da espécie humana e, mais recentemente, a redução da importância das tradições como suporte para a definição das escolhas dos indivíduos. Nesse caso específico, vivemos dias de uma pós-modernidade que questiona as grandes narrativas, as formas fechadas de explicação do mundo e nos incita à autonomia intelectual, muito embora, muita gente se entregue ao entorpecimento da consciência ou ao niilismo nesse contexto desafiante à racionalidade que se dobra sobre si mesma cobrando uma reforma de pensamento ou mudança de paradigma em nível pessoal e coletivo.
Victor Frankl
                Para Frankl, o vazio existencial costuma se apresentar no tédio que algumas pessoas sentem, quando identificam a falta de conteúdo de suas vidas a partir de momentos de quebra de rotina que acabam, de algum modo, por ensejar que reflitam a respeito. O vazio existencial, nessa linha de raciocínio, também está na base da depressão. Há casos em que o indivíduo procura compensar a vontade de sentido frustrada no poder ou no prazer e, naturalmente, na ausência desses uma crise se instala convocando-o a repensar a existência e pode facilitar a busca por terapia especializada. Aí estaria uma contribuição da Logoterapia: convidar o indivíduo a ser responsável pela sua vida, dito de outra forma, a ser sujeito da própria história.
Estratégias para a superação da tristeza
 
Pôr-do-sol no Cassino - VLL
 
                Algumas estratégias para que a alma supere a tristeza comum, a partir da reflexão proposta pelo Espírito François de Genéve, podem ser resumidas da seguinte forma: a) resistência enérgica às impressões que nos enfraquecem a vontade; b) considerando os ensinamentos dos Espíritos Superiores registrados por Kardec, aguardar com paciência o retorno para a vida espiritual que um dia virá, inevitavelmente; c) ter em vista a nossa missão na presente reencarnação, seja na família ou cumprindo as diversas obrigações que Deus nos confiou; d) Força, coragem para suportar àquelas impressões, encarando-as com determinação. Frente ao exposto, façamos uma breve meditação em torno dessas recomendações logo abaixo:
                Quando a tristeza comum ou melancolia se achegar podemos tentar resistir, como propõe o benfeitor espiritual, com energia, ou seja, com uma disposição da alma de não se entregar a esse quadro emocional até porque temos razões de compreender, a luz do pensamento espírita, o significado do momento presente como aprendizagem para o ser imortal que somos. A vontade, que é uma das potencias da alma, deve estar fortalecida pela energia que empreendemos em seu favor para que, com objetivo esclarecido, modifiquemos a paisagem que se delineia em nós mesmos. Aqui um recurso útil seria a prática da meditação[10].
                Ao considerar a brevidade da reencarnação e a certeza de nossa ancianidade e imortalidade, as agruras dessa vida são quase um nada porque observadas de um ponto de vista mais amplo podem ser compreendidas como acidentes de percurso que carregam consigo lições ao aprendiz atento que procura aproveitar de cada experiência aquilo que pode lhe enriquecer a alma. Esses saberes, quando devidamente apropriados, promovem a paciência que, a seu modo, conduz paulatinamente à paz interior. E é de gente apaziguada com força interior suficiente para pacificar que o nosso mundo precisa.
Ainda cabe considerar que, nessa reencarnação, temos uma variedade de deveres para conosco e para com o próximo a começar pelo nosso lar e extensivo à sociedade. Tenhamos em mente, quando a tristeza quiser se aprofundar e inspirar patologicamente algum desejo de morte, que Deus concede “A cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho.”[11] Assim sendo, conhecendo-nos traçamos objetivos em sintonia com o que somos e a forma pela qual podemos contribuir com o progresso coletivo, fazendo-nos agentes transformadores da realidade a começar pelo nosso mundo íntimo.
Por fim, ante as investidas sombrias do pessimismo e da tristeza recordemo-nos da lição do farol, ainda que as noites sejam de tormenta, mantém-se impoluto diante da violência das vagas suportando-as sem tombar e iluminando a jornada dos que prosseguem no mar. O farol assinala um porto-seguro. A pessoa que procura lidar com a tristeza sem deixar dominar-se demoradamente por ela – senti-la é normal e saudável – pode acender luz nesses dias de transição e ausência aparente de referenciais apaziguadores. Ela pode iluminar caminhos, sem que tenha essa pretensão, pela luz que acende em sua alma projetando-se corajosamente em um processo de evolução consciente nas lutas da vida.

    ***

[1] Educador, pesquisador e editor do blog SABERES DO ESPÍRITO.
[2] O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. V, item 25.
[3] O Livro dos Espíritos, questão 921.
[4] SINOTI, Iris. Depressão: uma luz na escuridão. In: Núcleo de Estudos Psicológicos Joanna de Ângelis. Refletindo a alma: a psicologia espírita de Joanna de Ângelis. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada Editora, 2011, p. 291-317.
[5] MAY, Rollo. O homem a procura de si mesmo. 36. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011, p. 23.
[6] Sobre esse tema vide o meu artigo “Apreciações sobre a normose” em: http://saberesdoespirito.blogspot.com.br/2010/03/apreciacoes-sobre-....
[7] O Self deve ser compreendido como um arquétipo do potencial humano em sua plenitude e tem a função de ordenar a vida psicológica do indivíduo. Roberto (2004, p. 52) assim o define: “sentido orientador fundamental, fonte criadora e reguladora de nossa vida psíquica, centro ordenador e unificador da psique. (Vide: ROBERTO, Gelson Luis. Aquém e além do tempo:uma visão  psicológica e espírita das etapas da vida. Editora Letras de Luz, 2004.)
[8] O Livro dos Espíritos, questão 919.
[9] FRANKL, Viktor E.. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. 25. Ed. São Leopoldo: Sinodal, Petrópolis: Vozes, 2008, p. 131-134.
[10] Caso o leitor queira refletir um pouco mais sobre o tema da meditação, numa perspectiva espírita, sugiro o texto “Medite sempre”, acessível em: http://saberesdoespirito.blogspot.com.br/2012/02/medite-sempre.html
[11] O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. I, item 10.
SABERES DO ESPÍRITO
VAZIO EXISTENCIAL
É o vazio espiritual, é o vazio na vida. Quem somos? A que viemos? Para onde vamos?
Todos desejamos intensamente encontrar um sentido para a vida e ficamos felizes quando constatamos que estamos a caminho dele, que vamos encontrar as respostas.
Várias pesquisas comprovam que a falta de significado para a vida, a sensação de vazio e o desconhecimento da razão existencial são os mais angustiantes sentimentos do homem moderno.
A maioria de nós é prisioneira da dimensão física; ainda somos conduzidos pelo aspecto psíquico-afetivo, mas, na dimensão do espírito, somos inteiros, completos, jamais vazios.
Nós não apenas existimos, mas exercemos influência sobre nossas vidas. Ignorar a dimensão transcendental é reducionismo. A origem da sensação de mal-estar, de incômodo e de insatisfação está na falta de algo que desconhecemos e na crença de que a vida está desprovida de significado.
Em vez de permitir que alguém nos use e que vá além do razoável, magoando-nos de forma constante, estabeleçamos limites e aprendamos a legitimar nossa dignidade pessoal. É preciso desenvolver a arte de amar a si mesmo, para que se possa amar melhor os outros, pois, em se tratando do campo do sentimento, urge a necessidade de delimitar fronteiras e de jamais anular a própria identidade.
Imolar-se em nome do amor, sendo massacrado emocionalmente por alguém simplesmente para manter um relacionamento destrutivo, é sinal de que se está amando a pessoa errada e de forma errada. Amar não significa sofrer.
Quando encaramos de forma tranqüila a sensação de fragilidade que nos invade de tempos em tempos, é porque nos conscientizamos de que ela faz parte da condição humana.
Quando a admitimos em nossa constituição Íntima, não temos mais a pretensão de sermos invulneráveis e fortes em todas as circunstâncias da vida. Só aceitando nossa fragilidade é que encontraremos estabilidade interior. Encarar os pontos fracos não é se conformar com eles, mas mapeá-los e discernir a razão que os motivou. Alimentar a idéia de que somos super-homens é sustentar uma personalidade doentia. Nenhum ser humano é assim. Não precisamos nos mostrar “durões” e “formidáveis” o todo tempo. Isso é utopia.
Hammed
SENTIMENTO DE VAZIO

Muitas pessoas relatam que sentem um vazio dentro de si mesmas. Como se algo as faltasse, como se não estivessem mais vivendo suas próprias vidas.
Existem diversas explicações para o surgimento desse sentimento de vazio que assola boa parte da humanidade. Mas de uma forma geral a explicação é a de que estamos vivendo nossa vida sem levar em conta aquilo que somos lá dentro de nós. Hoje vivemos na era da tecnologia, da informação e do consumo, onde quase não precisamos refletir sobre nós mesmos, onde milhares de soluções são vendidas como “produtos” de mercado, onde descontamos nossas carências na comida, em remédios de diversos tipos e em programas de TV, onde passamos mais tempo num aparelhinho de celular do que convivendo com nossos irmãos, onde também vivemos mais no barulho, no concreto, no cimento e na poluição do que na natureza, junto com a grama verde, o rio que corre, com a brisa matutina do campo ou com os animais que antes alegravam nossa vida.
Tudo isso nos proporciona uma sensação de ausência de algo que é essencial, de vazio da alma, um estado de torpor onde apenas reagimos aos estímulos externos, falamos compulsivamente e buscamos o prazer a todo custo, sempre como forma de amenizar um pouco a falta profunda que existe dentro de nossa alma. Essas soluções fúteis podem ser comparadas a alguém que bebe agua do mar para aplacar a sua sede: quanto mais bebemos, mais sentimos sede e a consequência pode ser uma forte disenteria. O espírito da vida parece ter se retirado do mundo atual e dado espaço ao novo reality show ou ao estojo de maquiagem da moda.
E qual a melhor forma de preencher o vazio que fica desse mundo fútil e sem alma?
Em primeiro lugar, é preciso retomar o contato com a natureza. A seiva vital da mãe Terra nos acolheu há milênios e dela nascemos e nos alimentamos. Um dos motivos desse vazio é a dolorosa separação do filho perante sua mãe sagrada. Os filhos da Terra precisam regressar ao seu lar natural, e assim voltar a viver na simplicidade de um belo campo gramado esvoaçando com a brisa, de um canto de pássaro e de um mergulho num riacho de águas frescas e límpidas.
Em segundo lugar, precisamos deixar de ser o que o outro espera de nós. Hoje em dia vivemos sendo tão somente aquilo que as pessoas esperam de nós, apenas para agradar o outro. Sendo assim, deixamos de ser nós mesmos e passamos a ser apenas uma imagem projetada dos desejos do outro.
As pessoas aceitam ser essa imagem ideal criada para que, com isso, possam se sentir amadas pelo outro, mas obviamente isso nunca dá certo. As pessoas nunca recebem o amor do outro apenas sendo uma cópia do que a mídia e a sociedade determinam. É fato que muitas pessoas comem muito, consomem muito e fazem muitas coisas a fim de preencher esse vazio, mas claro que isso nunca funciona. Parar de viver de acordo com as tendências da moda, com as exigências do mercado, imitando modelos de comportamento socialmente aceitáveis e permitindo que nosso interior expresse aquilo que somos é essencial para aqueles que aspiram a uma vida mais plena e feliz. Neste caso, a vaidade e o orgulho são os principais ingredientes do vazio que se forma dentro de cada um.
Em terceiro lugar, as pessoas precisam se dedicar mais à leituras, ao teatro, a filmes humanistas, à meditação, à contemplação e ficarem mais tempo sozinhas, consigo mesmas. Uma das características do mundo atual é que, de uma forma geral, o ser humano tem medo da solidão, e por isso evita a todo custo o ato de ficar consigo mesmo. Mas quando uma pessoa fica consigo mesma, e percebe o quanto isso é positivo, ela começa a se sentir melhor e passa a não mais temer a solidão. No momento em que ela não mais evitar a solidão, ela pode se libertar, ao menos em parte, dessa tentativa sistemática de ser amado pelos outros, e isso ajuda a extinguir comportamentos de desespero em que visamos ser amados e aceitos. Passamos a gostar mais de nós mesmos, não como mera personalidade, mas como uma essência ou uma luz espiritual que vive e se desenvolve no plano material.
Além dos três aspectos anteriores, é importante também deixamos de lado as futilidades, as superficialidades e passarmos a nos dedicar àquilo que realmente importa, como nossa família, nosso trabalho, nosso desenvolvimento interior, à leituras, à meditação e a reflexão sobre nossa vida. É difícil de acreditar que existem pessoas vivendo no mundo de hoje que jamais fizeram reflexões mais profundas sobre quem são e o que estão fazendo aqui nessa vida. Pare e reflita sobre essas questões fundamentais, e procure se ater a tudo o que é essencial, como valores universais, aquilo que não é tragado pelas correntezas do tempo, como o amor, a caridade, a compaixão, a paz, a tolerância, o respeito, a vida, etc. Faça mais períodos de reflexão e não se aquiete caso você não encontre respostas prontas.
A força que empenhamos na busca pelo sentido da vida é muito mais importante do que o encontro com respostas prontas e acabadas. Respostas prontas são sempre dispensáveis, uma vez que podem dar origem ao fanatismo religioso, a intolerância em relação a crenças e comportamentos alheios, além de gerar estagnação e bloquear nosso caminho.
Outro fator importante é permitir que a vida flua com toda liberdade dentro de nós. Emoções presas geram tensão, irritação e depressão. E como fazer isso? Quando sentir vontade de chorar, chore; quando sentir desespero, se desespere; quando sentir raiva, bote para fora sem atingir outros; quando sentir tristeza, fique triste; quando sentir alegria, viva essa alegria; quando sentir uma emoção, permita sua livre expressão. Não fique prendendo seus sentimentos, não tenha vergonha de demonstrar o que sente e nem acredite que emoções que vêm à tona implicam em fraqueza. Pessoas que vivem se anulando, se reprimindo frequentemente têm problemas com suas emoções, e passam a viver como zumbis, autômatos, frios e sem alma. A partir disso cresce um vazio dentro delas. Não importa se hoje você está triste ou melancólico, amanhã você estará melhor. Ficar bloqueando a tristeza só fará com que você não olhe para ela, não a descarregue, não a libere, e assim ela ficará represada dentro de você e causará muito mais efeitos deletérios em seu psiquismo.
Reflita sobre esses pontos e procure pratica-los em sua vida. O vazio interior é ausência de uma existência plena onde vivemos pelo mundo ilusório e não pela essência que existe dentro de tudo e todos.
Autor: Hugo Lapa

domingo, 15 de abril de 2018

"E você? Quando vai começar aquela longa jornada para dentro de si? "

Rumi 

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“O dom de poder mental vem de Deus, o Ser Divino e se concentrarmos nossas mentes na verdade, ficamos em sintonia com este grande poder”. 

Nikola Tesla 

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"Para entender tudo, é preciso esquecer tudo. Estamos, desde pequenos, imersos numa contínua aprendizagem. Na infância, nosso mapa mental ainda não está desenhado, o que nos faz sermos abertos a “tudo” e à capacidade de entender qualquer coisa, pois não sabemos julgar.


Mas a medida em que crescemos, nossa mente se enche de restrições e normas sociais que nos dizem como devemos ser, como devem ser as coisas, e como devemos nos comportar, inclusive o que devemos pensar. Nos tornamos inconscientes de nós mesmos, então nos perdemos.

Para mudar e ver as coisas sob uma perspectiva mais saudável para nós, precisamos aprender a nos desligar das crenças, dos hábitos e das ideias que não provêm do nosso coração."

Pensamento budista 


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"O verdadeiro estado de meditação é alcançado quando existe a percepção da percepção, sem a intrusão de quaisquer pensamentos. Mas essa não é a condição última. Além dela há o estágio em que toda a percepção desvanece sem a perda total de consciência que isso normalmente traz.

A meditação será realizada com exito quando todos os pensamentos se extinguirem, e quando a presença da Divindade for sentida dentro desse vazio. "

Paul Brunton 


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“O amor verdadeiro é feito de quatro elementos: bondade, compaixão, alegria e equanimidade. Em sânscrito, são chamados de: maitri, karuna, mudita e upeksha. Se o seu amor contém tais elementos, ele será curativo e transformador, e abarcará também o elemento da santidade. O amor verdadeiro tem o poder de curar e transformar qualquer situação, além de trazer um significado profundo às nossas vidas.” 

Thich Nhat Hanh 

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“Enquanto estivermos nos rejeitando e causando danos aos nossos corpos e mentes, não há motivo para conversarmos sobre aceitar e amar os demais. Com consciência plena, podemos reconhecer nossas maneiras habituais de pensar e também o conteúdo dos nossos pensamentos. Algumas vezes, nossos pensamentos giram em círculos e ficamos reféns da desconfiança, do pessimismo, dos conflitos, da tristeza e do ciúme. Esse estado mental se manifesta naturalmente em nossas ações, causando danos a nós mesmos e aos demais.

Quando acendemos a luz da consciência plena sobre nossos padrões habituais de pensamento, os enxergamos com clareza. Reconhecer nossos hábitos e sorrir para eles é uma atenção mental apropriada. Isso nos ajuda a criar caminhos neurais novos e bem mais benéficos”.”

Thich Nhat Hanh 


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"O amor é a liberdade que faz de nós um elo mas não forma correntes" (Allan Castro).
Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.

O corpo existe tão somente para que o Espírito se manifeste.

Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.

O fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem.

Honrar o pai e a mãe não é somente respeitá-los, mas também assisti-los nas suas necessidades; proporcionar-lhes o repouso na velhice; cercá-los de solicitude, como eles fizeram por nós na infância.

A felicidade depende das qualidades próprias do indivíduo e não do estado material do meio em que se acha.

Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente está na razão da grandeza do efeito.

O homem é assim o árbitro constante de sua própria sorte. Ele pode aliviar o seu suplício ou prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade ou sua desgraça dependem da sua vontade de fazer o bem.

Não façais aos outros o que não quereríeis que vos fosse feito, mas fazei-lhe, ao contrário, todo o bem que está em vosso poder fazer-lhe.

Com a inveja e o ciúme, não há calma nem repouso para aquele que está atacado desse mal: os objetos de sua cobiça, de seu ódio, de seu despeito, se levantam diante dele como fantasmas que não lhe dão nenhuma trégua e o perseguem até no sono.

O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência são para a alma ervas venenosas das quais é preciso a cada dia arrancar algumas hastes, e que têm como contraveneno: a caridade e a humildade.

Os Espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal e que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, têm por missão instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.

O sinal mais característico da imperfeição do homem, é o seu interesse pessoal.




Você receberá, de retorno, tudo o que der aos outros, segundo a lei que nos rege os destinos.” 


Allan Kardec

A nossa felicidade será naturalmente proporcional em relação à felicidade que fizermos para os outros.

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 Deus está em cada um de nós, no templo vivo da consciência. É aquele o lugar sagrado, o santuário em que se encontra a divina centelha. Homens! Aprendei a imergir em vós mesmos, a esquadrinhar os mais íntimos recônditos do vosso ser; interrogai-vos no silêncio e no retiro. E aprendereis a reconhecer-vos, a conhecer o poder escondido em vós. É ele que leva e faz resplandecer no fundo de vossas consciências as santas imagens do bem, da verdade, da justiça, e é honrando essas imagens divinas, rendendo-lhes um culto diário, que essa consciência, ainda obscura, se purifica e se ilumina. Pouco a pouco, a luz se engrandece em nós outros. De igual modo que gradualmente, de maneira insensível, as sombras dão lugar à luz do dia, assim a Alma se ilumina das irradiações desse foco que reside nela e faz desabrochar, em nosso pensamento e em nosso coração, formas sempre novas, sempre inesgotáveis de verdade e de beleza. E essa luz é também harmonia penetrante, voz que canta na alma do poeta, do escritor, do profeta, e os inspira e lhes dita as grandes e fortes obras, nas quais eles trabalham para elevação da Humanidade. Mas, sentem essas coisas apenas aqueles que, tendo dominado a matéria, se tornaram dignos dessa comunhão sublime, por esforços seculares, aqueles cujo senso íntimo se abriu às impressões profundas e conhecem o sopro potente que atiça os clarões do gênio, sopro que passa pelas frontes pensativas e faz estremecer os envoltórios humanos. 
Léon Denis.
Nenhuma obra humana pode ser grande e duradoura se não se inspirar, na teoria e na prática, em seus princípios e em suas explicações, nas leis eternas do Universo. Tudo o que é concebido e edificado fora das leis superiores se funda na areia e desmorona.
     A origem de todos os nossos males está em nossa falta de saber e em nossa inferioridade moral. Toda a sociedade permanecerá débil, impotente e dividida durante todo o tempo em que a desconfiança, a dúvida, o egoísmo, a inveja e o ódio a dominarem. Não se transforma uma sociedade por meio de leis. As leis e as instituições nada são sem os costumes, sem as crenças elevadas. Quaisquer que sejam a forma política e a legislação de um povo, se ele possui bons costumes e fortes convicções, será sempre mais feliz e poderoso do que outro povo de moralidade inferior.
     Sendo uma sociedade a resultante das forças individuais, boas ou más, para se melhorar a forma dessa sociedade é preciso agir primeiro sobre a inteligência e sobre a consciência dos indivíduos.
     Os espíritos de escol professam o Niilismo metafísico, e a massa humana, o povo, sem crenças, sem princípios fixos, está entregue a homens que lhe exploram as paixões e especulam com suas ambições. 
     A educação, sabe-se, é o mais poderoso fator do progresso, pois contém em gérmen todo o futuro. Mas, para ser completa, deve inspirar-se no estudo da vida sob suas duas formas alternantes, visível e invisível, em sua plenitude, em sua evolução ascendente para os cimos da natureza e do pensamento. 
     A ciência moderna analisou o mundo exterior; suas penetrações no Universo objetivo são profundas; isso será sua honra e sua glória; mas nada sabe ainda do universo invisível e do mundo interior. É esse o império ilimitado que lhe resta conquistar. Saber por que laços o homem se liga ao conjunto, descer às sinuosidades misteriosas do ser, onde a sombra e a luz se misturam, como na caverna de Plutão, percorrer-lhe os labirintos, os redutos secretos, auscultar o eu normal e o eu profundo, a consciência e a subconsciência; não há estudo mais necessário. Enquanto as Escolas e as Academias não o tiverem introduzido em seus programas, nada terão feito pela educação definitiva da Humanidade. 
     Fé do passado, ciências, filosofias, religiões, iluminai-vos com uma chama nova; sacudi vossos velhos sudários e as cinzas que os cobrem. Escutai as vozes reveladoras do túmulo; elas nos trazem uma renovação do pensamento com os segredos do Além, que o homem tem necessidade de conhecer para melhor viver, melhor agir e melhor morrer!
     O Espiritualismo moderno dirige-se principalmente às almas desenvolvidas, aos espíritos livres e emancipados, que querem por si mesmos achar a solução dos grandes problemas e a fórmula do seu Credo. Oferece-lhes uma concepção, uma interpretação das verdades e das leis universais baseada na experiência, na razão e no ensino dos Espíritos. Acrescente a isso a revelação dos deveres e das responsabilidades, única condição que dá base sólida ao nosso instinto de justiça; depois, com a força moral, as satisfações do coração, a alegria de tornar a encontrar, pelo menos com o pensamento, algumas vezes até com a forma, os seres amados que julgávamos perdidos. À prova da sua sobrevivência junta-se a certeza de irmos ter com eles e com eles reviver vidas inumeráveis, vidas de ascensão, de felicidade ou de progresso.
     Dia virá, em que todos os pequenos sistemas, acanhados e envelhecidos, fundir-se-ão numa vasta síntese, abrangendo todos os reinos da ideia. Ciências, filosofias, religiões, divididas hoje, reunir-se-ão na luz e será então a vida, o esplendor do espírito, o reinado do Conhecimento
     O Espiritismo não dogmatiza; não é uma seita nem uma ortodoxia. É uma filosofia viva, patente a todos os espíritos livres, e que progride por evolução. Não faz imposições de ordem alguma; propõe, e o que propõe apoia-se em fatos de experiência e provas morais; não exclui nenhuma das outras crenças, mas se eleva acima delas e abraça-as numa fórmula mais vasta, numa expressão mais elevada e extensa da verdade. 
     Em geral, a unidade de doutrina é obtida unicamente à custa da submissão cega e passiva a um conjunto de princípios, de fórmulas fixadas em moldes inflexíveis. É a petrificação do pensamento, o divórcio da Religião e da Ciência, a qual não pode passar sem liberdade e movimento.
     Esta imobilidade, esta inflexibilidade dos dogmas priva a Religião, que a si mesma as impõe, de todos os benefícios do movimento social e da evolução do pensamento. Considerando-se como a única crença boa e verdadeira, chega a ponto de proscrever tudo o que está fora dela e empareda-se assim numa tumba para dentro da qual quisera arrastar consigo a vida intelectual e o gênio das raças humanas. 

     O que o Espiritismo mais toma a peito é evitar as funestas consequências da ortodoxia. A sua revelação é uma exposição livre e sincera de doutrinas, que nada têm de imutáveis, mas que constituem um novo estádio no caminho da Verdade Eterna e Infinita. Cada um tem o direito de analisar-lhe os princípios, que apenas são sancionados pela consciência e pela razão. Mas, adotando-os, deve cada um conformar com eles a sua vida e cumprir as obrigações que deles derivam. Quem a eles se esquiva não pode ser considerado como adepto verdadeiro.
Ó alma humana! torna a descer à Terra, recolhe-te; vira as páginas do grande livro aberto a todos os olhares; lê, nas camadas do solo em que pisas, a história da lenta formação dos mundos, a ação das forças imensas preparando o globo para a vida das sociedades.
     Depois, escuta. Escuta as harmonias da Natureza, os ruídos misteriosos das florestas, os ecos dos montes e dos vales, o hino que a torrente murmura no silêncio da noite. Escuta a grande voz do mar! Por toda parte retine o cântico dos seres e das coisas, a vida ruidosa, o queixume das Almas que sofrem ainda, qual se permanecesse aqui, e fazem esforços para se libertar da ganga material que as estreita.
     A floresta estende até ao horizonte longínquo suas massas de verdura que estremecem sob a brisa e ondulam, de colina em colina. Através das espessas ramas, a luz se escoa em louras estrias sobre os troncos das árvores e sobre os musgos; o sopro da brisa folga nas ramagens. O outono junta a esses prestígios a simpatia das cores, desde o verde amarelado até o vermelho rubro e o ouro puro; matiza e cresta as moitas; amarela de ocre os castanheiros, de púrpuras as faias; aformoseia as urzes róseas das clareiras. Embrenhemo-nos sob a folhagem. À medida que avançamos, a floresta nos envolve com seus eflúvios e seu mistério. Aromas fecundos sobem do solo; as plantas exalam sutil perfume. Poderoso magnetismo se desprende das árvores gigantescas e nos penetra e nos inebria. Mais longe, raios dourados penetram em uma clareira e fazem brilhar os troncos das bétulas quais se fossem as colunatas de um templo. Mais longe ainda, bosques sombrios aparecem, cortados em linha reta por uma aleia que alonga, a perder de vista, suas arcadas de verdura, semelhantes a abóbadas de catedral. Por toda parte, abrem-se refúgios cheios de sombra e de silêncio, solidões profundas que inspiram uma espécie de emoção. Caminhamos aí sob espessas trevas, crivadas de gotas de sol.
     Aqui, uma faia venerável arredonda no flanco de um cabeço seus folhudos zimbórios. Ali, são os carvalhos que inclinam sobre o espelho de uma lagoa suas espessas ramagens. Uma árvore secular, patriarca dos bosques, respeitada pelo machado, e que três ou quatro homens não poderiam abraçar, eleva-se isolada, alta qual uma igreja. O raio a tem visitado várias vezes, conseguindo, apenas, quebrar os seus galhos, deixando-a sempre de pé, altiva e protetora. Seu pé intumesce de raízes monstruosas, alcatifadas de musgos; coleópteros, semelhantes a pedras preciosas, correm sobre sua rugosa casca.
     Em triste solidão, diversos pinheiros expandem seus fustes avermelhados e seus galhos torcidos em forma de lira. Será um capricho da Natureza? O pinheiro é a árvore musical por excelência. Suas agulhas finas e maleáveis balançam ao vento, cheias de carícias e cochichos.
     Como é bom perambular sob a sombra silenciosa e comovente dos grandes bosques, ao longo do límpido regato e dos apagados trilhos traçados pelos cabritos! Como é agradável estendermo-nos sobre o veludo das alfombras ou sobre o tapete dos fetos, na base de qualquer rochedo granítico, para seguir o carreiro dos escaravelhos dourados sobre as ervas, das lagartixas sobre a pedra, e prestar ouvidos aos alegres trinados dos passarinhos! Um mundo invisível se agita e freme em redor: concertos dos infinitamente pequenos acalentando o repouso da terra; insetos, em legiões, fazem sua ronda a um raio de luz, ao mesmo tempo em que no cimo de um álamo a toutinegra se externa em garganteios de pérolas. Aqui, tudo é gozo de viver e metamorfose fecunda! No seio de um ramalhete de árvores, a fonte jorra entre os rochedos; ela se espreguiça sobre um leito, de calhaus, entre florinhas e campânulas, hortelãs bravas e salvas. Do sulco esculpido por suas águas, aonde vêm beber os passarinhos, a onde cristalina corre gota a gota e murmura docemente. Um grande pinheiro sombreia e protege a pequenina concha. O vento agita suas agulhas, enquanto a fonte murmura sua cantilena. Um raio de sol, deslizando pela ramagem, vem pôr mil reflexos faiscantes sobre a toalha límpida. No ar, libélulas dançam e folgam; bonitas moscas multicores zumbem ao cálice das flores. Na paisagem tranquila, a água corrente e murmurante é um símbolo de nossa vida, que surge nas profundezas obscuras do passado e foge, sem nunca parar, para o oceano dos destinos, aonde Deus a conduz para tarefas sempre mais altas, sempre novas. Pequena fonte, pequeno regato, amigo dos filósofos e dos pensadores, vós me falais da outra margem, para a qual eu me encaminho em cada segundo, e me recordais que tudo, em volta dos seres, é lição, ensinamento para quem sabe ver, auscultar e compreender a linguagem desses seres e de todas as coisas!
     Mas, de repente, o vento sul irrompe; sopro poderoso passa sobre a floresta, que vibra qual um órgão imenso. Semelhante a uma onda de esmeraldas, o grande fluxo vegetal intumesce pouco a pouco, ondula e sussurra. Um coração invisível anima a solidão feraz. Os troncos gigantescos se forcem em longos gemidos. Clamores sobem das touceiras; dir-se-ia o rodar de carros ou de exércitos que se entrechocam.
     O carreiro ganha um planalto e serpenteia através de um bosque de castanheiros. Estas árvores centenares tremem ao vento. Inclinando seus galhos pesadamente carregados, elas parecem dizer ao homem: Colhe meus frutos, nos quais destilei o suco de minha medula; guarda meus galhos mortos, que no inverno aquecerão teu lar. Toma, porém, não sejas ingrato nem indiferente, porque toda a Natureza trabalha para teu proveito. Não sejas ingrato, senão as provações, as rudes lições da adversidade virão fatalmente atingir teu coração, arrancar-te, cedo ou tarde, à tua indiferença, às tuas dúvidas, a teus erros e orientar teu pensamento para compreensão da grande Lei!
     Imediatamente a impressão muda e se adoça. O vento se foi. A charneca sucedeu à floresta; os tojos, as alfazemas, as giestas fazem séquito à augusta assembleia dos bosques. Sobre uma elevação do solo, um alto monólito se levanta, no centro de um círculo de pedras, coberto de musgo, umas ainda de pé, outras jazendo na relva, contando a história das raças milenares, seus sonhos, suas tradições, suas crenças. O espetáculo dessas pedras enigmáticas nos reconduz ao abismo dos tempos. Daí se origina a melancolia das coisas desaparecidas, enquanto que, ao redor, a Natureza nos dá a sensação de mocidade eterna.
     Nas encostas, vales se abrem, quebradas se aprofundam. Sob moitas bastas e odoríferas, puras, frescas, surgem fontes; seu murmúrio enche o vale. O dia declina. Através das gargantas, em uma chanfradura azulada, o Sol projeta reflexos de púrpura e ouro. Alvores de incêndios aparecem na orla dos bosques. Atrás, sob os fogos do poente, a grande floresta zimborial expande seus bosques gigantescos, seus maciços cerrados, todo o suntuoso e cativante vestuário de que o outono o adornou. Os raios oblíquos do Sol perpassam entre as colunatas e vão iluminar as solidões longínquas; fazem sobressair as folhagens multicores; uivos variados, ouros foscos, vermelhos brilhantes, cromos e lacas; tudo se ilumina, tudo flameja em uma espécie de apoteose. Diante dessa fantástica decoração, que me fascina, na paz da tarde, meu pensamento se exalta e eleva, sobe à Casa de tantas maravilhas, para a glorificar!
(Léon Denis – Obra: O Grande Enigma)

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Não é possível controlar o estresse e encontrar o mínimo de equilíbrio emocional se você se abandona pelo caminho.
Dicas para controlar o estresse:
1. Superar a necessidade ansiosa de ser perfeito.
2. Superar a necessidade ansiosa de evidência social.
3. Superar a necessidade ansiosa de poder.
4. Superar o cárcere do individualismo, do egocentrismo e do egoísmo.
5. Superar a necessidade ansiosa de criticar os outros.
6. Superar a necessidade ansiosa de cobrar os outros.
7. Superar a necessidade ansiosa de se preocupar com o que os outros pensam e falam de nós.
8. Superar o cárcere do conformismo para entender que quem triunfa sem riscos torna-se um vencedor sem glórias.
(Fonte Augusto Cury)