quarta-feira, 2 de março de 2016

Elton Alisson | Agência FAPESP

A exemplo do que fez na agricultura, em que se tornou um dos maiores produtores agrícolas mundiais ao desenvolver uma série de tecnologias e adaptar sistemas de produção de cultivos de regiões temperadas para os trópicos, o Brasil também terá que desenvolver um modelo próprio de controle biológico.
 
A avaliação foi feita por pesquisadores participantes do workshop “Desafios da Pesquisa em Controle Biológico na Agricultura no Estado de São Paulo”, realizado na segunda-feira (29/02), no auditório da FAPESP.
 
Representantes de universidades, instituições de pesquisa e de empresas que realizam pesquisa e desenvolvimento de agentes naturais para combate a pragas agrícolas apresentaram e discutiram os principais avanços obtidos em São Paulo e em outras regiões do país na exploração, criação e liberação em lavouras de inimigos naturais de organismos que atacam florestas, plantas e diversas culturas.
 
“Temos que desenvolver um modelo de controle biológico apropriado às características da agricultura brasileira, que é muito dinâmica e em que há o plantio sem interrupção de culturas em grandes extensões, além da produção constante de novas cultivares e o surgimento frequente de pragas”, disse José Roberto Postali Parra, professor do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e coordenador do workshop, na abertura do evento.
 
De acordo com Parra, a pesquisa e desenvolvimento em controle biológico avançaram muito no Brasil nos últimos anos e hoje há massa crítica razoável atuando no estudo de macrorganismos – como insetos e ácaros –, além de microrganismos como bactérias, vírus, protozoários e nematoides, que fazem parte da biodiversidade brasileira e que podem ser usados para controlar as pragas de diferentes culturas.
 
O avanço foi possível em razão especialmente de técnicas de criação que permitem a produção de grandes quantidades de insetos em uma lavoura e uma redução mais rápida da população da praga que se pretende controlar.
 
Ao contrário de países como a Holanda, onde o controle biológico é feito quase que exclusivamente em casas de vegetação, no Brasil é realizado em áreas abertas. O país, entretanto, possui programas comparáveis aos melhores do mundo, em situação diferente das de outros países, e com menor disponibilidade de inimigos naturais sendo comercializados por empresas.

Uma das razões para isso é a cultura do uso de agroquímicos para controlar pragas agrícolas nas lavouras brasileiras, que têm causado graves desequilíbrios biológicos, tais como aparecimento de pragas secundárias e contaminação do solo e água.
 
Em 2012, por exemplo, foram gastos R$ 9,7 bilhões com agroquímicos no Brasil. Já em 2014, o gasto saltou para R$ 12 bilhões, dos quais R$ 4,6 bilhões foram voltados para a compra de inseticidas.
 
Nos últimos 12 anos, a utilização de agroquímicos no Brasil aumentou 172% enquanto que no resto do mundo o crescimento foi de 90%, comparou Parra. “Tem se usado muito inseticida no Brasil, inclusive feitos a partir de moléculas que já foram banidas em outros países”, disse.
 
“Os agroquímicos podem ser usados desde que sejam aplicados produtos seletivos – que matam a praga mas não os inimigos naturais – e que seja feita uma rotação dos princípios ativos de tal forma que não se crie resistência dos organismos que se pretende controlar”, avaliou.
 
Segundo o pesquisador, o alto custo de desenvolvimento e os desafios cada vez maiores para a sintetização de moléculas para a produção de inseticidas têm favorecido a expansão do controle biológico no Brasil e no exterior.
 
Atualmente, de acordo com dados apresentados por Parra, o custo da síntese de uma nova molécula para a produção de inseticidas é de cerca de US$ 250 milhões.
 
Já o custo de desenvolvimento de uma cultivar transgênica, mais tolerante a uma determinada praga, por exemplo, é de US$ 125 milhões. E o desenvolvimento de um inseto para controle biológico fica entre US$ 2 milhões e US$ 10 milhões.
 
“O alto custo do desenvolvimento de moléculas para inseticidas, somado ao aumento da pressão da sociedade pela diminuição do uso de agroquímicos e a constatação de que os transgênicos não conseguem solucionar o problema das pragas agrícolas, têm estimulado o uso de controle biológico no Brasil e no mundo”, disse Parra.
 
“Mas o controle biológico não pode ser usado isoladamente e não é a única solução para o controle de pragas. Ele deve ser um componente do manejo integrado de pragas e ser usado associado inclusive aos inseticidas, desde que usados de forma racional, além de plantas transgênicas e outros métodos de controle de pragas”, ponderou.
 
A utilização de controle biológico na agricultura no país e no exterior tem aumentado entre 15% e 20% ao ano e atualmente esse setor já movimenta US$ 17 bilhões

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